terça-feira, 22 de agosto de 2017

O PRIMEIRO ANIVERSÁRIO DO BIG BRASA



A primeira festa de aniversário do Big Brasa foi realizada no dia 28 de abril de 1968, no Balneário Clube de Messejana, com música o dia inteiro: matinal, vesperal e tertúlia, entrando pela noite. O símbolo desse primeiro aniversário foi uma flâmula em forma de uma guitarra vermelha e branca, com os dizeres alusivos à festa. Na matinal atuaram os conjuntos Os Rataplans, Os Belgas e o Big Brasa. À tarde e noite Os Milionários, a ala feminina do Big Brasa e novamente o Big Brasa.


A música de todos conjuntos musicais fizeram a alegria e animaram centenas de pessoas naquele primeiro aniversário do Big Brasa. Pode-se afirmar com certeza que aquela foi uma das maiores e melhores festas do Balneário. Houve participação maciça durante toda a festividade e o clube esteve lotado o dia inteiro. Com um detalhe: também foi uma das primeiras festas dessa natureza a ser transmitida pelo rádio, com participações ao vivo! Uma flâmula comemorativa foi distribuída na entrada do clube a todos os participantes, como lembrança do evento. A Diretoria do clube nos ofereceu um troféu, em comemoração a nosso primeiro aniversário e pelo reconhecimento de nosso sucesso em Fortaleza. Durante o evento houve uma confraternização geral entre os conjuntos participantes, dentro de um clima de amizade e coleguismo.

A ALA FEMININA DO BIG BRASA




Incentivadas pela formação do Big Brasa, Célia Alencar, Aliete Lima, Lucinha, Neide e Adriana Oriá formaram a ala feminina do grupo. Foi como uma brincadeira, mas chamou a atenção da moçada de Messejana. As meninas ficaram empolgadas com o Big Brasa e resolveram ensaiar algumas músicas. Com o nosso instrumental, chegaram a se apresentar algumas vezes nos intervalos das festas do Balneário Clube de Messejana, sempre com bastante agrado por parte dos presentes em face da novidade.         

PROMOÇÕES REALIZADAS PELO BIG BRASA



O Big Brasa realizou diversas promoções por conta própria, no Balneário Clube de Messejana. Em algumas delas o conjunto obteve sucesso, mas em outras foi prejudicado pelo famoso jeitinho brasileiro de querer levar vantagem em tudo. Para começar, nestes eventos a diretoria do Clube sempre ficava com a renda do bar, deixando a venda de entradas na portaria para o Conjunto. Mas era assim que os problemas começavam a ocorrer. Enquanto a maioria das pessoas comprava ingresso normalmente, havia aqueles que a qualquer custo queriam botar todo mundo para dentro do clube sem pagar. Muitos se diziam diretores ou amigo dos diretores. Alguns membros da diretoria efetiva usavam de sua influência para colocar pessoas no clube sem pagar ingresso. Apenas para conhecimento pleno da situação houve casos extremamente ridículos, quando algumas pessoas tentaram entrar sem pagar pulando o muro do Clube e se escondendo na vegetação existente até surgir uma oportunidade de passar para a festa. Em outra oportunidade houve um pequeno grupo de rapazes que entrou nadando pela lagoa de Messejana, com a roupa na cabeça para no molhar. Isso foi incrível, mas aconteceu! Não tinha jeito, a mentalidade de alguns era essa... 

OUTRAS COMEMORAÇÕES DE ANIVERSÁRIO


O segundo aniversário do Conjunto Big Brasa, em 27 de abril de 1969, foi realizado no Recreio dos Funcionários (hoje Recreio Clube de Campo), na Lagoa Redonda. Fizemos um acordo para que os sócios do Balneário Clube de Messejana fossem recebidos como convidados especiais. Foi uma festa belíssima e muito organizada.

Abrilhantaram aquela festa, além do Big Brasa, mais dois conjuntos musicais: Os Milionários e Os Belgas. Naquele dia os Belgas se apresentaram muito bem, como sempre! O grupo, composto pelo Edson Girão, Eudes, Ricardo Girão e Júlio, deu um show à parte no que se refere  vocalização. Tocavam e cantavam os arranjos dos Beatles de maneira espetacular, com o som bem ajustado, tudo cem por cento.


O quarto aniversário do Conjunto Big Brasa foi realizado no dia 22 de maio de 1971. Desta vez no Clube General Sampaio, no centro da cidade. Centenas de pessoas estiveram presente naquela festa. Para você ter uma ideia, O Brasa Seis, um dos melhores conjuntos da época, tocou uma parte da festa durante o dia fazendo uma apresentação impecável. Muitos de nossos amigos da televisão, radialistas e o pessoal da imprensa compareceram em peso e curtiram bastante a bonita festa. O vestuário do Big Brasa esteve como sempre muito elegante, com um grupo de camisas muito bonito. O nível técnico do conjunto neste período esta muito bom, repertório e tudo mais.     

REGISTRO DE APRESENTAÇÕES - O MAPA SUMIDO



Que falta nos faz este registro, que seria uma verdadeira relíquia! Mais ou menos em 1972 eu organizei um mapa, feito em uma folha de cartolina branca, contendo anotações de 500 apresentações feitas pelo Big Brasa. Tive muito trabalho na elaboração desse controle, para recuperar ao máximo possível as funções musicais em que o Big Brasa atuou. Esse levantamento minucioso continha indicações dos locais, clubes, cidades e às vezes até mesmo os nomes dos aniversariantes. Esse precioso controle infelizmente sumiu misteriosamente de nossa sede. Daí por diante fizemos mais centenas de apresentações, inclusive as da televisão, nas quais o Big Brasa tocava diariamente, mas não houve mais a preocupação e nem a paciência de manter tais registros com tal precisão. 

O CONJUNTO BIG BRASA PELO INTERIOR DO CEARÁ


O Conjunto Big Brasa esteve presente em muitos municípios cearenses, para animar festas de inauguração, bailes de formatura e outros eventos, nos quais sempre foi muito bem recebido. Em quase todas as oportunidades encontrávamos faixas e cartazes pela cidade ou em frente ao clube local, dando boas-vindas ao conjunto, além da recepção feita pelas fãs e curiosos.

O sucesso nas cidades interioranas, sem tirar os méritos e a qualidade do próprio conjunto, deve ser creditado também à enorme divulgação realizada através dos programas de televisão que o Big Brasa participava, pela TV Ceará, Canal 2, dos Diários e Emissoras Associados. Nossa imagem chegava diariamente em todos os municípios e até outros estados, como o Piauí, através de antenas repetidoras!

Dentre os municípios cearenses que o Conjunto Big Brasa se apresentou, sendo que em alguns deles muitas vezes, lembro dos seguintes: Aquiraz, Aracati, Baturité, Canindé, Cascavel, Caucaia, Crateús, Guaiúba, Horizonte, Iguatu, Ipueiras, Itapajé, Itapipoca, Jaguaruana, Maracanaú, Maranguape, Massapê, Mombaça, Nova Russas, Pacajus, Pacatuba, Pacoti, Pindoretama, Quixadá, Quixeramobim, Redenção, Russas, São Benedito, Sobral, Tianguá, Umirim e Várzea Alegre.

Nas cidades do interior a rotina praticamente era idêntica quando chegávamos: encontrar o endereço do clube ou o local da apresentação, retirar todo o equipamento dos transportes e montar tudo, deixando os instrumentos no ponto para a festa, com os amplificadores e caixas devidamente testados, guitarras afinadas, tudo de maneira que a gente pudesse chegar apenas a alguns minutos do início da função. Em seguida o grupo ia tomar banho, jantar e nos arrumar para o retorno ao clube. No podíamos demorar nessas etapas para não perder o horário. Aí é  que vem a responsabilidade. Eu controlava o pessoal, ficando de olho para que ninguém se atrasasse.

As hospedagens sempre foram simples, mesmo porque o interior do Ceará, exceções à parte, na época no possuam bons hotéis ou pousadas. Na maioria dos contratos o conjunto se hospedava em um pequenos hotéis ou pensões de classificação “sem estrelas”, onde nos preparávamos para o baile. Nestes momentos vale dizer que a descontração de todos, as brincadeiras entre os integrantes, tudo aquilo muito divertido e que trás saudades! Todas as viagens do conjunto eram sempre animadas em razão do alto astral da turma. Depois dos bailes, quando o grupo estava de volta para Fortaleza, elas se tornavam cansativas, pelo percurso e acomodação nos transportes, além do esforço natural pela noite de trabalho. Para quem dirigia a responsabilidade era bem maior.

Durante toda a existência do Big Brasa consegui manter a liderança sobre o grupo de forma bem democrática. Na realidade eu nunca me senti dono do conjunto e sim um guitarrista e companheiro dos demais integrantes. Nos momentos em que tive que tomar decisões difíceis, em nome do Big Brasa, nunca hesitei em tomá-las. Quando o assunto envolvia todo o pessoal a turma era consultada, para decidir sempre com base na maioria.

- A festa em São Benedito

Este episódio tem por objetivo enfatizar as dificuldades nos deslocamento do Conjunto Big Brasa. Primeiramente por não ser uma empresa bem estruturada, pois não havia isso naquela época nos conjuntos musicais cearenses tínhamos que exercer vários papéis e funções. Vejamos:

Lembro-me de um contrato do Big Brasa para a cidade de São Benedito, a uns 350 quilômetros de Fortaleza, na Serra de Ibiapaba. Foi uma das mais cansativas funções musicais que enfrentamos, exigindo de todos muito preparo físico, psicológico e mental. O conjunto tinha tocado na noite anterior em Fortaleza. Nosso equipamento passou a noite na Kombi, preparado para a viagem e a nova batalha. Acordamos no dia seguinte e depois de termos almoçado cedo, por volta das onze horas da manhã, seguimos viagem. Eu dirigi a Kombi naquele dia. Depois de mais ou menos umas sete horas de viagem, sem nenhum problema, conseguimos chegar a nosso destino. Ao chegar montamos imediatamente o instrumental no clube (nestas ocasiões todo mundo tinha que virar bigu, pois este sozinho não daria conta do recado a tempo). Muitos equipamentos para desmontar, instalar, fios e cabos para ligar, testar o som dos amplificadores, afinar guitarras etc. Quando tudo estava pronto saímos para tomar um banho e jantar, também de forma rápida, para iniciarmos o baile no horário previsto. Ao retornar para o clube, tudo estava certinho com os instrumentos e a festa inteira transcorreu sem anormalidades. Ao final da festa o inverso: a desmontagem de tudo e a viagem de volta. Todo mundo cansado, dormindo e eu com atenção redobrada ao volante. Daquela vez passei mais de trinta horas ligado direto, sem dormir, um verdadeiro risco.
Hoje reconheço que todos nós passamos por um verdadeiro perigo, pelo fato de voltar dirigindo depois de uma noite toda acordado. Meu anjo da guarda estava ao meu lado, mais uma vez...

- Em Várzea Alegre


A mobilização do Big Brasa para cumprir este contrato foi intensa. O grupo tinha se apresentado na noite anterior em Fortaleza, salvo engano no Clube Líbano. Depois da festa, com os instrumentos e material arrumados nos transportes descansamos algumas horas e partimos para Várzea Alegre em nossa Rural e também com a Kombi do Big Brasa, em uma viagem longa e cansativa. A festa seria uma Formatura. Com início previsto para as 22 horas, acabamos começando a tocar quase meia-noite por conta do atraso dos concludentes. E eu, como responsável pelo conjunto sempre avisava para o presidente do clube que seria bom iniciar logo, porque a duração do baile era de cinco horas e eles poderiam perder com aquela demora. A resposta foi imediata: o diretor do colégio que nos contratara disse, de forma grosseira e gesticulando bastante: “As cinco horas vão ser contadas por este relógio aqui (apontando para o dele) e o dinheiro para o pagamento do conjunto está aqui em meu bolso”... Levei aquele recado para os outros músicos e chegamos à conclusão de que tínhamos que esperar mesmo e aturar o posicionamento do diretor para evitar qualquer problema que viesse a nos prejudicar. É o velho ditado se confirmava: “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Mesmo com o início retardado a festa foi muito boa e quase amanhecemos o dia, para voltar imediatamente para Fortaleza para mais um evento. 

VIAGENS PARA OUTROS ESTADOS




Os contratos do Conjunto fora do Estado do Ceará foram todos marcantes e nos deixaram boas lembranças. O Conjunto Big Brasa esteve nos Estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Maranhão e Piauí. No Maranhão, por exemplo, tocamos muitos bailes em boas temporadas realizadas em Balsas, Carolina e Caxias e São Luís. Todas as temporadas muito por demais gratificantes e nos trouxeram muitos aprendizados.

A PRIMEIRA EXCURSÃO DO BIG BRASA


Da primeira excursão do Conjunto Big Brasa, ainda em 1967, é importante destacar que nós tínhamos ainda pouca experiência musical e tudo estava começando. Por puro desconhecimento foi uma temeridade o Big Brasa sair de Fortaleza e viajar até Balsas, Carolina e São Luís, com quatro guitarras e sem contrabaixo. Verdadeiro heroísmo, mas que atualmente seria inaceitável. Apesar das condições instrumentais do conjunto não serem ideais para aquele período, havia emoção e muito entusiasmo por parte de todos. Por causa disso e também da novidade que levamos para aquela cidade, o Big Brasa até hoje  lembrado por quem participou de seus bailes, como o melhor conjunto musical que por lá atuou. Boas e inesquecíveis lembranças, comprovando que a primeira impressão é  a que fica... Por isso mesmo temos que aceitar o fato numa boa, porque na verdade muita gente no sentia falta nenhuma do instrumento. Era tudo novidade e a sensação era o som das guitarras! Com certeza, até hoje em dia tem muita gente que no tem sensibilidade musical para perceber a falta que um contrabaixo faz em um conjunto.

- As animadas festas em Caxias, Maranhão
O Conjunto Big Brasa esteve em Caxias em 1968, para três funções musicais, ainda sob a orientação de meu pai Alberto Ribeiro. A primeira festa foi realizada na União Artística Caxiense, depois tocamos na Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB) e por último no Balneário Veneza. No final da temporada fizemos uma rápida apresentação na residência do prefeito local, que nos recebeu para um magnífico jantar. A presença de fãs durante estes momentos foi constante, inclusive com solicitação de autógrafos e fotografias. Naquela época participavam do Big Brasa o Carló, Adalberto, Edson, Severino, Getúlio e João Ribeiro.
Nota da imprensa local sobre a temporada em Caxias, dizia:
“Encontra-se em nossa cidade, procedente de Fortaleza, o vitorioso Conjunto Musical Big Brasa, em excursão artística de divulgação da música moderna. Composto de cinco músicos, todos pré-universitários, membros de destacadas famílias da sociedade alencarina, os jovens intérpretes do iê-iê-iê estrearam ontem em animado baile realizado na sede da União Artística Operária Caxiense, quando tiveram oportunidade de empolgar os numerosos convidados com uma verdadeira apoteose de sons e ritmos, que bem os recomendam como um dos melhores conjuntos do gênero que nos têm visitado. Além de ser equipado com um instrumental dos mais modernos, o conjunto agrada e faz vibrar a todos pela vivacidade que executa o seu variado repertório”.
Imaginem que o Conjunto Big Brasa ainda usava amplificadores de pequena potência e a velha bateria. Apenas as guitarras já tinham sido substituídas por outras mais modernas, de marcas Gianinni e Phelpa, modelos “Apache” e “Coronado”. 
- Um verdadeiro “ladrão” na guitarra
Em Caxias, fiquei conhecendo algumas das diversas expressões usadas pelos maranhenses da seguinte forma: durante um dos intervalos das festas que o Conjunto Big Brasa tocava, um grupo de pessoas estava reunido em torno da mesa reservada para o conjunto, quando ouvi uma delas dizer para a minha mãe, o seguinte: - Minha Senhora, o seu filho é um verdadeiro “ladrão” na guitarra!
Fiquei prestando atenção no que ele dizia, percebendo que se referia à maneira que eu tocava a guitarra, principalmente por ter usado em um improviso um efeito interessante, realizado com a utilização de um copo, passando pelas cordas, cujo som se assemelhava ao de uma guitarra havaiana. 
O que de outra forma seria uma qualificação triste, para se ouvir a respeito de um filho, para ela, a Dona Zisile, soou como música, pois o emprego da palavra “ladrão”, nesse caso, significava uma pessoa que executava bem aquele instrumento, um “craque” em sua arte. Uma expressão muito usada pelos maranhenses.  
- Big Brasa em São Luis do Maranhão

Em 1968 o Conjunto Big Brasa foi contratado para tocar três festas em São Luís do Maranhão. Lembro que tocamos no Casino Maranhense, no Lítero Clube e no Grêmio dos Subtenentes e Sargentos da Polícia Militar do Maranhão. Pelos três bailes o Big Brasa recebeu 60 mil cruzeiros, mais as passagens aéreas. Um contrato e tanto para os parâmetros da época, em que uma simples viagem de avião era considerada um item de luxo.

O grupo musical Big Brasa naquele tempo era composto pelo Carló (in memoriam), Edson Belém, Edson Girão, Adalberto Pereira Lima, (guitarristas-bases e vocalistas), Severino Tavares (baterista) e João Ribeiro Beiró, guitarrista-solo. O Getúlio Alberto, meu irmão, participava como mascote do grupo. Antes de partirmos fizemos umas fotos no Aeroporto Pinto Martins e outras logo que chegamos a São Luís.

No Clube dos Sargentos e Subtenentes da Polícia Militar, o organizador veio até nós solicitar que acompanhássemos uma jovem cantora da cidade, de 15 anos, que tinha uma voz belíssima. No meio da festa fizemos uma pausa e essa moça ensaiou rapidamente conosco para depois dar um verdadeiro show de voz, empolgando todos participantes. Ficamos sabendo muitos anos depois que essa cantora era nada menos que a Alcione, hoje famosa, filha de um daqueles militares. Ela estava vestida de branco, muito graciosa, e fez uma belíssima apresentação.

- A temporada em Balsas, Maranhão

Foi em 1968. O Conjunto Big Brasa era integrado por João Dummar, Carló, Marcos Oriá, Severino Tavares e eu, João Ribeiro. Chegamos à cidade e foi aquele sucesso monumental. Todo mundo ansioso para conhecer aquelas músicas e verem as famosas guitarras! 

O desconhecimento dos novos conjuntos musicais fazia que surgissem confusões de nomenclatura, visto que uma pessoa ao examinar o nosso material perguntou ao Mestre Alberto se o nome daquele instrumento era “tarracha” ou guitarra. E meu pai explicou direitinho que o nome era mesmo “guitarra”. Depois ele nos contou a história e todos rimos muito pela mencionada confusão entre os termos.  

Como aquela excursão estava programada os locais antecipavam a propaganda e os preparativos para nossa recepção. Assim, seguimos do aeroporto de Balsas em cima de um caminhão, que rodou pelo centro e principais ruas de Balsas, acompanhado por outros carros (a maioria jipes), como uma carreata. O pessoal ficava olhando aquilo tudo, admirado e acenando das portas e janelas. Tudo aquilo foi realmente impressionante para nós e a responsabilidade pesava mais ainda, depois daquela bela acolhida. O Big Brasa foi o primeiro conjunto com guitarras a ter se apresentado em Balsas. Daí se explicava toda aquela curiosidade.

Um panfleto que circulou pela cidade, anunciava:

“A partir do dia 18 do corrente mês se encontrará em nosso meio o Conjunto Big Brasa, autêntico representante da música popular moderna. Trata-se de um conjunto de jovens, onde figuram dois balsenses, que vem alcançando grande sucesso no meio social de Fortaleza. Espera-se contar com o apoio integral do povo balsense para este acontecimento, que cumprirá uma dupla missão: recreativa e cultural”.

O pessoal todo, particularmente amigos e familiares, estava entusiasmado com a nossa presença. Dentre eles estavam os nossos primos Bernardino e Gonzaguinha e o próprio Mestre Alberto, meu pai. Mais tarde tomamos as providências para a preparação do nosso “grande” instrumental no Clube Recreativo Balsense (CRB). O problema maior era o som para a voz. Havia naquele tempo os serviços de som dos clubes, normalmente um amplificador muito fraco e ruim, com pouca potência e caixas de som também de péssima qualidade. E ainda por cima, na última hora uma das caixas pifou! Quem salvou a pátria, substituindo um alto-falante defeituoso, foi um padre italiano de quem não lembro o nome. Mas assim mesmo o alcance e a qualidade do som de voz deixava muito a desejar...

- E as cordas de guitarra?

Outro problema nessa temporada foi o da falta de alguns acessórios, principalmente cordas para as guitarras. Não tínhamos experiência e falhamos ao não levar para Balsas um estoque suficiente de encordoamentos de reserva. Resultado: a turma da mão pesada nas guitarras quebrou várias cordas. Desse time fazia parte o Dummar, que com suas batidas fortes, como fazia ao violão, bateu o recorde. Eu também não escapava e de vez em quando quebrava uma corda. Lógico que os encordoamentos não tinham a resistência como os da atualidade. A solução para a falta de cordas, embora precária, foi comprar cordas de violão para substituir as das guitarras. Mesmo ficando com a sonoridade inadequada foi o jeito utilizá-las. Vale aquele ditado: “ruim com elas, pior sem elas”. E compramos vários deles, ocasionando uma verdadeira baixa nos encordoamentos de violão no comércio local.

- A acertada crítica do Leonizar

Ainda sobre a temporada de Balsas um fato merece citação com destaque. Soube-se que durante a apresentação do Big Brasa no Clube Recreativo Balsense, na qual os entusiasmados presentes muito aplaudiam o Conjunto Big Brasa, um excelente saxofonista da cidade, chamado Leonizar comentou numa roda de amigos que naquele conjunto uma guitarra estava desafinada. Por sua afirmação foi levado ao ridículo na mesma hora, pelo desconhecimento musical e pela empolgação daquela turma com o conjunto. Eles simplesmente não admitiam aquela observação. Esta história se espalhou por toda a cidade e o pessoal tirou o couro do Leonizar por muito tempo.  Mas veja como são as coisas: a bem da verdade o Leonizar era o único que estava com plena razão! As guitarras, algumas ainda com encordoamentos de violão, certamente desafinavam muito. E não deveria ser apenas uma, e sim várias!  

O exímio saxofonista, possuidor de um ouvido fora de série, simplesmente constatou uma grande verdade e nem chegou a exagerar em seu acertado comentário. Lembro que as guitarras desafinavam mesmo e havia dificuldade para afiná-las corretamente, com o conjunto tocando! A desafinação ocorria em virtude da precariedade dos instrumentos e da qualidade das cordas utilizadas (encordoamentos de violão). Este simples fato serve para ilustrar novamente que a razão, muitas vezes fica encoberta pela emoção.

- Contratos para Carolina, Maranhão

Motivado pelas apresentações do Big Brasa em Balsas, um grupo de pessoas de Carolina, cidade muito próxima, que mantinha certa rivalidade com Balsas, logo se mobilizou no sentido de também contratar o conjunto para duas apresentações. Ainda mais, porque esta cidade tinha fama pelo seu bom nível cultural.

Depois do contrato devidamente acertado foram enviados dois pequenos aviões monomotores para nos transportar, daqueles que, conforme o ditado, praticamente  levantam voo “na emergência” por terem apenas um motor. Imagine o Conjunto Big Brasa viajando em dois aviões. Na verdade aquilo era inédito e um verdadeiro luxo para nós, além do risco, é lógico. Mas nos sentíamos muito empolgados e com a imagem de um grupo tal como os Beatles no interior do Brasil... Mas os sonhos tinham que retornar à realidade: ao distribuir nosso equipamento e o pessoal do conjunto nesses pequenos teco-tecos, não houve espaço para o banco da bateria, o qual, por não ser desmontável teve que ficar. Foi a primeira dificuldade.

Durante o voo, o piloto do avião no qual eu estava (que era um pouco mais potente e veloz), disse que nós poderíamos logo avistar a outra aeronave, que tinha decolado um pouco antes e estava com o restante de nosso pessoal. E com uns dez a quinze minutos ele nos apontou o outro avião, que estava voando ao nosso lado esquerdo, acho que a uns 100 metros de distância. Vale relatar ainda a gracinha feita pelo mesmo piloto, com relação a uma inocente pergunta feita pelo Getúlio Alberto: “E avião também tem acelerador? E o piloto prontamente respondeu: “Tem!”. E empurrou um dos controles do painel para frente, tirando praticamente toda a aceleração. O motor diminuiu a rotação e consequentemente o leve aviãozinho começou a perder altura, assustando muito o Getúlio. Só por alguns instantes, porque nós, imediatamente, pedimos para que ele acelerasse de novo.

Chegando a Carolina o Conjunto foi muito bem recepcionado ainda no aeroporto. Em seguida nos deslocamos para conhecer o clube local, testar e instalar nosso instrumental. A curiosidade e a admiração pelas guitarras eram enormes, em virtude de ser total novidade naquela época, principalmente em uma cidade do sul do Maranhão. O caso do banco da bateria, que não coube no avião foi prontamente resolvido com uma cadeira, colocada em cima de um engradado de cerveja de modo a ficar na altura adequada. O Severino teve que se arranjar desse jeito durante as apresentações.

Surgiu um segundo problema: a tensão da rede elétrica oscilava bastante, por ser gerada por uma usina local, movida a óleo diesel. Ficava quase todo o tempo muito abaixo dos 220 volts, sem falar nas oscilações, prejudicando o funcionamento e a qualidade de som dos amplificadores. A solução rapidamente foi apresentada por moradores locais, que conheciam bem o problema, e se prontificaram logo a nos ceder vários transformadores, de diversos tipos e capacidades, cuja instalação ficou uma verdadeira gambiarra no palco. A ideia daquelas pessoas em conseguir os tais transformadores acabou dando certo, no final de tudo.

Nas duas festas tocadas em Carolina, eu e o Carló fizemos apresentações, durante o intervalo, tocando de mesa em mesa, ao redor da pista de dança, com escaleta e violão. A música escolhida para aquela oportunidade era a mesma que tocávamos no Balneário de Messejana - Les Marionettes. Fomos muito aplaudidos, o que de certa forma causou admiração a um primo de meu pai, que confidenciou a ele ter estranhado o povo de Carolina bater palmas daquela maneira, tendo em vista que era de seu conhecimento que vários artistas de renome tinham se apresentado na cidade e não receberam tantos aplausos. Ainda bem que naquela oportunidade mudaram o comportamento, consequencia talvez da grande novidade das guitarras. 

Nosso retorno a Balsas foi em voo comercial, em um bimotor modelo DC-3, da extinta empresa Real Aerovias. Esse tipo de avião, muito usado pelas companhias aéreas naquele período, não era pressurizado e se ouvia o ronco dos fortes motores bem alto, mesmo dentro da aeronave. Durante o trecho Carolina a Balsas, um dos músicos do conjunto resolveu dar uma de turista, pensando que o atendimento de bordo era “de primeira”. E perguntou a um comissário de bordo: “Seria possível um pouquinho de leite?”. O comissário, achando muita graça, disse com a maior cara de brincalhão: “Você está vendo alguma vaca aqui dentro? Tem refresco de limão, lá atrás, pode pegar”. Disse ele, apontando para uma torneirinha daquelas. Nesse voo lembro que a turbulência foi enorme em razão da baixa altitude, deixando uma parte de nosso pessoal meio atordoada. Na chegada a Balsas muitos amigos e conhecidos estavam nos esperando no aeroporto e nos recepcionaram com muita satisfação. A viagem foi muito interessante, tanto que várias lembranças são mantidas até hoje, passados quase cinquenta anos. A temporada valeu a pena por mais uma experiência para todos nós, praticamente no início do Big Brasa!

- As festas em Teresina, Piauí

No Piauí o Big Brasa se apresentou mais de uma vez em Teresina e Parnaíba. Em Teresina ficamos hospedados com o nosso tio Raldir Bastos e tia Hermelinda (in memoriam), que nos receberam de forma excelente, apoiando a parte logística das festas. Assim pudemos estabelecer um convívio com todos os meus primos.

Em um dos bailes realizados em Teresina, no Clube dos Diários, lembro que durante o intervalo houve um show de um grupo musical da terra, que se apresentou muito bem. Quando retornamos para a segunda parte do baile o Big Brasa mostrou determinação para superar o tal grupo musicalmente e conseguimos nosso objetivo. Com um bom repertório, o esforço para apresentar uma música de qualidade mais uma vez tinha sido recompensado.

Naquele dia, por exemplo, durante uma pequena pausa durante a festa senti que meus dedos da mão esquerda estavam latejando muito, em função de solos e muitos improvisos executados. Quem sabe também por causa de encordoamentos velhos da minha guitarra. Tive a impressão que estavam sangrando.

Logo que desci do palco derramei sobre os dedos primeiramente um pouco de guaraná, para suavizar um pouco a sensação. Vendo que estava tudo normal, apenas doloridos, fiquei mais tranquilo e segui em frente até o final daquele baile, sem problemas.

 - Shows em Parnaíba, Piauí

O Conjunto Big Brasa integrou uma caravana composta por apresentadores e artistas da TV Ceará, Canal 2. Viajamos em um ônibus muito bom, com todos do grupo e alguns artistas da televisão. Com muita propaganda na TV Ceará os sucesso daqueles eventos estavam praticamente garantidos. Em Parnaíba destaque especial para um show realizado no SESC, seguido de baile no principal clube da cidade, nos quais o conjunto se apresentou de uma forma impecável e foi muito bem recebido por uma plateia calorosa e muitas fãs. Um detalhe: ao final da última música, uma senhora que estava na frente do palco, aplaudindo freneticamente durante o tempo inteiro, disse para mim que queria cortar um pedaço de minha orelha para ficar de lembrança. Já pensaram, que desejo extravagante?

Após o término desta apresentação vale registrar que o conjunto teve dificuldades para deixar o palco, localizado no auditório, que ficava no segundo andar do prédio, em razão do assédio praticado pelas fãs. O que se repetiu em seguida, quando precisamos atravessar o pátio para chegar aos transportes que nos levariam para o clube. Eu e o Lucius Maia, por exemplo, passamos entre muitas garotas que aproveitaram a oportunidade para nos abraçar, beliscar, beijar e pedir autógrafos, gritando freneticamente. A televisão realmente exercia uma força de propaganda significativa para o Big Brasa no interior do Estado. De forma que sempre fomos muitíssimo bem acolhidos em todos os locais. Nossos fãs estavam sempre presentes e nos davam muito carinho. 


- Presença em Mossoró, Rio Grande do Norte

Em Mossoró, no Rio Grande do Norte, o Big Brasa animou diversos bailes. Dentre eles o da formatura do Carló (in memoriam), um dos fundadores do Conjunto Big Brasa, como engenheiro agrônomo. Essa festa de formatura da Escola de Agronomia de Mossoró foi um sucesso total.

Havia uma predisposição para que isso acontecesse em função do Carló ser muito conhecido na cidade (era chamado apenas de “Big”, pelos seus colegas de turma e demais conhecidos). Todos os seus amigos se integraram ao nosso grupo e o baile, que contou com presença de um grande número de pessoas, transcorreu dentro da mais absoluta normalidade.

Em outras oportunidades que o Big Brasa se apresentou em Mossoró, lembro que o conjunto estava bem ensaiado e com um instrumental excelente (o que havia de melhor para os padrões da época), com equipamentos bons e todos os acessórios  como pedais wah-wah e distorção. O conjunto, além das músicas de sucesso do momento e variado repertório, tocava sempre uma sequência de músicas do famoso guitarrista Carlos Santana, com várias músicas que favoreciam espaços para improvisação e nós os aproveitávamos bem.


A título de registro, muito de nosso foi inspirado, além do Santana, nos exímios guitarristas Jimi Hendrix e Eric Clapton, os quais me serviram de modelos para a criação de um estilo particular. O nosso ritmo em termos de percussão estava reforçado por duas tumbadoras. O Conjunto Big Brasa atravessava uma fase marcante de muito som.

O ACERVO DO CONJUNTO BIG BRASA


O início de todo o material que compõe o acervo do Conjunto se deve às boas providências de minha saudosa mãe Zisile. Assim temos hoje recordações dos bons tempos do Big Brasa através de notas publicadas na imprensa em variados períodos e fotografias que ela guardava tudo com um carinho especial! Com muito gosto ela recortava as notas de imprensa, as fotos e as guardava cuidadosamente para montar seus álbuns. Essas recordações possuem um valor inestimável para todos aqueles que efetivamente participaram dos Anos 60, da Jovem Guarda e de modo especial do Big Brasa.
O fundamental é que o entusiasmo pelos registros de tudo proporcionou a manutenção do acervo do Big Brasa por mim e hoje podemos compartilhar com familiares, com o público em geral, amigos, fãs do Big Brasa e todos aqueles que vivenciaram aquela época maravilhosa. Lembro saudosamente de alguns momentos em que minha mãe me mostrava uma publicação, algum recorte de jornal, dizendo, com muita felicidade: “Olhe João Ribeiro, saiu esta nota hoje”... E as guardava nos álbuns.

- Uma crônica sobre o Conjunto Big Brasa!

“Big Brasa - A Crônica dos Anos Dourados” foi o título da Coluna Entre Aspas, (Caderno C) do dia dez de setembro de 1998, publicada no Jornal Tribuna do Ceará, que trás a capa de meu livro estampada em página inteira, cujo exemplar guardo até hoje com extremo carinho e que vou transcrever a seguir para na íntegra, sem tirar nem colocar uma vírgula sequer. A crônica foi escrita pelo jornalista Luiz Antonio Lima Alencar, que vivenciou o período e conhece bem a história da música no Ceará e o mundo do rock. O “Peninha” foi integrante do Conjunto, sendo tratado por nós como um Eterno Big Brasa. Dizia a crônica:

“O Big Brasa e minha vida musical, um livro a ser lançado na primeira quinzena de janeiro que fala de um grupo cearense que representou os tempos áureos da Jovem Guarda. 

Em 1967, Fortaleza era uma sociedade ainda com sabor provinciano, com apenas um canal de televisão em preto e branco e a música de Jovem Guarda detonando nas emissoras de rádio e nos corações. A cidade era cheia de conjuntos de música jovem chamada yê-yê-yê, que era justamente o som que os Beatles, o Rolling Stones e Cia. Ltda. faziam pelo mundo afora.

Em Messejana, o jovem João Ribeiro da Silva Neto, então com 15 anos, exibia orgulhosamente sua primeira guitarra para os amigos, uma novidade naqueles tempos inocentes e fundava uma bandinha com o nome adequado para a época Big Brasa. Com equipamentos primitivos para o dia de hoje, mas eficientes para aqueles anos inocentes, o grupo passou a tocar bailes, levando o som de Roberto Carlos, Renato e seus Blue Caps, Beatles e Stones, para os circunspectos clubes sociais, escandalizando os diretores com suas músicas consideradas barulhentas em contrapartida com os boleros e mambos de então.

O livro O Big Brasa e Minha Vida Musical - Anos Dourados, de João Ribeiro da Silva Neto, com 154 páginas, fala de sua experiência pessoal como músico de música pop dos Anos 60, mas abrange também uma época considerada exuberante na história local e do mundo, principalmente na área musical.
O mais curioso é a participação de um senhor de cinquenta anos, o contador Alberto Ribeiro da Silva, no projeto que envolvia adolescentes e suas travessuras, o que dá um choque de gerações tão comum nos Anos 60. Mantendo uma linha de autodepoimento o livro passeia pelos fatos inocentes do período, numa linguagem simples e até coloquial como um bate-papo. A realidade musical da época, que com várias bandas do estilo fazendo a cabeça do pessoal e invadindo a seriedade dos clubes, se faz presente de maneira leve e indireta.
O esquema era interessante. Na medida em que os grupos cresciam em termos de volume de som e equipamentos, os diretores de clubes ficavam escandalizados com a barulheira infernal para seu gosto, enquanto o som e os costumes evoluíam. O Conjunto Big Brasa tipifica essa mutação comportamental interessante, a partir do instante em que jovens da classe média urbana faziam sua revoluçãozinha de maneira inocente em um palco, tocando para as pessoas dançarem, enquanto as cabeças mudavam.

Vale lembrar que entre 1967 e 1977, período de vigência do Big Brasa, Fortaleza dispunha de pouquíssimas, elitizadas e tímidas boates, e o escoamento jovem ia para os clubes, condensando a onda toda. As letras românticas e inocentes, a ausência de drogas, e as guitarras e amplificadores de baixa potência, quase sem efeitos, era a receita da felicidade dos anos dourados. Haja vista que, quando o Conjunto Big Brasa começou a usar os primeiros pedais de efeitos, numa marca de pioneirismo, causou sensação entre a moçada.

O livro de João Ribeiro trata de tudo isso, com a leveza de um bate-papo carinhoso e nostálgico.”
- “Big Brasa, excelente conjunto musical dirigido por um joseense”
Acima a manchete de uma nota publicada em um jornal de São José dos Campos, São Paulo, pelo jornalista Vantuílde José Brandão, que visitou Fortaleza em 1969. Esse jornalista falava de sua amizade com meu pai, durante os vinte anos que morou em São Paulo e destacava que dois participantes do Big Brasa erma “filhos da terra”, os seja, joseenses.
Depois de algumas considerações sobre a composição do Big Brasa, dizia a nota: “Fortaleza é uma capital de um milhão de habitantes e que possui muitos conjuntos musicais que atuam em seus clubes. Pois bem, o Conjunto Big Brasa é considerado um dos melhores. O simpático conjunto atua nos principais clubes de Fortaleza e já percorreu as principais cidades do Ceará e de outros Estados. Alcançou pleno sucesso em Teresina, no Piauí e São Luís, no Maranhão”.    
 - “Big Brasa retorna quente de São Luís: Música Jovem”
Dizia a publicação: “O conjunto musical Big Brasa, um dos papas do iê-iê-iê, depois de vitoriosa excursão a São Luís do Maranhão, retorna a Fortaleza para animar as festas da gente jovem. Conjunto agressivamente musical e de excelente qualidade, o Big Brasa tem uma característica moderna, tocando o ritmo do iê-iê-iê, em suas diversas modalidades, como os sambas modernos ou a bossa-nova, dentro do melhor estilo de Vinícius de Morais, de Tom Jobim e ainda da música de protesto de Edu Lobo ou ainda de Gilberto Gil. Na capital Timbira atuou nos melhores clubes, lavrando magníficos tentos”. 

- “Big Brasa em Teresina”
Nota de um jornal de Teresina:

- “Registramos a presença em nossa capital do Conjunto Musical Big Brasa, radicado em Fortaleza, onde faz muito sucesso. São integrantes desse grupo musical: Marcos Oriá, João Dummar Filho, João Ribeiro e Carlomagno Lima (guitarristas), Severino Tavares (baterista) e Getúlio Ribeiro (mascote). Esses rapazes são todos pré-universitários e aqui estão hospedados na residência do Professor Raldir Bastos. Boas vindas, rapazes!”

OS FESTIVAIS NORDESTINOS DA MÚSICA POPULAR


Em Recife, Pernambuco, o Conjunto Big Brasa participou duas vezes das finais dos Festivais Nordestinos da Música Popular, televisionados para todo o Norte e Nordeste. As transmissões pela EMBRATEL naquela época consistiam novidade e motivo de repercussão na imprensa, visto que apenas eventos de grande vulto mereciam tal destaque.

Não existiam as redes nacionais de televisão, como atualmente. Eventos transmitidos assim eram esporádicos. Os anúncios na televisão diziam: “Festival Nordestino da Música Popular com transmissão ao vivo para todo o Norte e Nordeste”.
  


Big Brasa e Ednardo em Recife - Revista “O Cruzeiro”

Sobre o primeiro Festival, realizado em dezembro de 1971, trecho de uma nota publicada por um jornal cearense: “Está seguindo na próxima sexta-feira para a capital pernambucana a equipe de compositores e intérpretes que apresentarão as composições selecionadas em Fortaleza para concorrer ao II Festival da Música Nordestina. Entre a turma de músicos cearenses se destaca a participação do Conjunto Big Brasa, que defenderá as músicas Beira-Mar e Rua do Ouro, classificadas em primeiro e quarto lugares respectivamente”.

Pouco antes da final do primeiro Festival Nordestino da Música Popular que o Conjunto Big Brasa participou em Recife, defendendo músicas do Ednardo, adquirimos em São Paulo dois pedais do tipo wah-wah de marca nova. A ideia era usar um para a guitarra-solo e outro para o órgão. A aquisição desses equipamentos foi um verdadeiro show de competência e de logística do tio João. Tudo muito rápido, a aquisição, a remessa e enfim a chegada dos pedais em tempo recorde. Fomos receber a encomenda no Aeroporto, diretamente no departamento de bagagens da VARIG, quase às 23 horas. Deu tudo certo, os pedais foram incorporados ao nosso instrumental e utilizados de acordo com o planejamento.

- Transmissão ao vivo para o Norte e Nordeste

A respeito desse Festival, que foi televisionado para todo o Norte e Nordeste (na época uma transmissão por demais comentada), lembro de alguns acontecimentos interessantes. Um deles durante o ensaio geral, no Ginásio Coberto localizado no bairro Embiribeira (idêntico ao Paulo Sarasate, de Fortaleza, porém mais bem acabado, pois tinha alojamentos, restaurante e uma área externa bem maior).

No ensaio do Conjunto Big Brasa com a orquestra de Recife, acompanhando a música Beira-Mar, do Ednardo, o maestro ficou entusiasmado com a música e o arranjo. Também entre os músicos da orquestra a opinião unânime era a de que aquela música tiraria o primeiro lugar. Mas para ganhar em Recife não tinha jeito! Ficamos apenas com um terceiro lugar e uma menção honrosa. Valeu, entretanto, a extensa reportagem sobre o Festival publicada na extinta Revista O Cruzeiro (a qual está no acervo do Big Brasa), transcrevendo com destaque e na íntegra a letra de Beira-Mar e publicando a foto do Ednardo, acompanhado pelo Conjunto Big Brasa e pela orquestra de Recife.

- A torcida e as vaias para os concorrentes

A torcida pernambucana nesses festivais se assemelhava ao que ocorria com as rivalidades por conta do futebol, sendo totalmente contrária às delegações da Bahia e do Ceará. Um segundo fato interessante deste festival, que eu nunca esquecerei, foi que durante o intervalo da TV, quando nos preparávamos para entrar no ar com o Ednardo, o público do Ginásio, que estava completamente lotado, começou a vaiar intensamente o Ednardo e o conjunto. Estávamos todos muito nervosos, evidentemente. E tome vaia, mesmo porque eles vaiavam tudo que fosse do Ceará. Um cara da plateia tocava uma buzina que emitia um som engraçado e depois vinha a vaia. Mas, por felicidade e presença de espírito, talvez, peguei o tom daquela buzina na guitarra e com o wah-wah, após o cara tocá-la, reproduzi o som no palco com a guitarra a plena altura! Depois sucessivos toques e de minha respostas com a guitarra o pessoal gostou e tudo virou brincadeira. Alguns até aplaudiram e a vaia rapidamente cessou. Foi ótimo para todos nós. Por último faço questão de registrar a verdadeira e inadmissível falha do maestro da orquestra pernambucana, que na hora de começar a apresentação do Ednardo, veio me perguntar o andamento da música para fazer a introdução, com a orquestra. Eu expliquei para ele, cantei as primeiras notas da melodia, gesticulando com as mãos o andamento correto. Mas qual foi nossa surpresa, quando esse maestro iniciou Beira-Mar com um andamento completamente acelerado! E nosso baterista estava com a orquestra. Foi uma luta nos segundos iniciais para tentar fazer o andamento retroceder ao original, uma verdadeira briga entre a orquestra e o Conjunto. De propósito ou não o fato é que isso certamente contribuiu para atrapalhar o Ednardo, que ficou mais branco do que pó de giz durante toda a música. Esse pequeno deslize do maestro pernambucano prejudicou de forma significativa nosso desempenho naquela noite.


Nas folgas, depois dos compromissos com ensaios, saímos em grupo para conhecer os pontos principais de Recife. Com quase tudo financiado pela TV Ceará, ou Diários e Emissores Associados do Ceará, da Rede Tupi. Conhecemos duas adegas muito bonitas e aconchegantes, que apresentavam shows noturnos. A Adega do Bocage e a da Mouraria. Estivemos também na praia da Boa Viagem e em alguns pontos turísticos da cidade. 

EQUIPAMENTOS E AS DIFICULDADES DA ÉPOCA



Esta parte de nossos registros é importante no sentido de dar conhecimento aos músicos mais da atualidade sobre como eram os equipamentos na época, as dificuldades em sua aquisição em Fortaleza e outros detalhes curiosos. 

No início do Conjunto Big Brasa adquirir instrumentos ou acessórios musicais era muito difícil em Fortaleza. Não havia nenhuma loja especializada neste setor. Algumas possuam seções com poucos instrumentos ou acessórios e a diversificação dos produtos oferecidos era mínima.

Por exemplo, quando se encontrava um tipo de encordoamento ou mesmo simplesmente palhetas para guitarra em determinado lugar você poderia se dar por  satisfeito. Havia, no entanto, a casa do Sr. Aurélio, no Benfica, onde podíamos encontrar peles diversas para bateria (que eram de couro mesmo inicialmente e com o passar do tempo foram substituídas pelas de nylon), palhetas para guitarra, também difíceis de serem encontradas, baquetas e outros acessórios, como cordas para guitarra e contrabaixo. Tudo isso somente podia ser encontrados na referida loja. O “Seu Aurélio” era a salvação dos grupos musicais...

- O “embaixador” do Big Brasa em São Paulo

João Ribeiro da Silva Filho - o Tio João (in memoriam), meu padrinho e amigo, sempre foi muito prestativo e por mim considerado um verdadeiro embaixador do Big Brasa em São Paulo. Tenho que registrar seus inestimáveis favores prestados a mim e por extensão ao Big Brasa. Residindo em São Paulo, se tornou profundo conhecedor da cidade. Assim sendo, todas as vezes que precisávamos de algum material desse tipo recorríamos ao Tio João. Necessário destacar o seu interesse, a sua boa vontade em nos ajudar, sua competência para fazer compras acertadamente e pela logística que sempre empregava. 

Com o Tio João nada tinha mistério e tudo podia ser feito. Era o que se pode chamar de um cara desenrolado. Dependendo da encomenda feita, se ele no conhecesse o equipamento ou o que fosse, dizia: “Bem, eu não sei onde tem isso, mas pode deixar comigo que vou descobrir!” E fazia mesmo. Pouco tempo depois ele dava retorno, dizendo que tinha pesquisado sobre a encomenda, com todos os detalhes possíveis. Muito organizado, outra de suas características era a capacidade com que embalava qualquer coisa (produto, material ou equipamento) de forma que nada quebrasse. Um verdadeiro artista.

Uma vez ele conseguiu bater seu próprio recorde de tempo, ao adquirir dois pedais de efeito tipo wah-wah e despachá-los para Fortaleza por via aérea. O pedido foi feito em um dia e a encomenda chegou no dia seguinte à noite. E nós fomos retirar a encomenda no setor de bagagens, perto da meia-noite, ainda no antigo Aeroporto Pinto Martins. Diga-se que isso foi na década de 60 início dos anos 70!

- Os amplificadores e as caixas de som

As caixas de som no início eram pequenas e integradas aos amplificadores. Tínhamos no Conjunto Big Brasa amplificadores de 6, 8 e 10 watts, com as caixas de som, com mais ou menos 70 a 80 centímetros de altura, coisas simplesmente ridículas se comparadas ao que existe hoje em dia em matéria de equipamentos musicais. Tanto que elas pouco aparecem nas fotografias, escondidas atrás dos músicos. Imaginem: duas guitarras ligadas a um amplificador de 6 watts, com um alto-falante de 6 ou 8 polegadas. Que som forte! Com o passar do tempo houve um gradativo aumento da potência e da qualidade dos equipamentos. Nos anos seguintes os amplificadores começaram a ser produzidos em módulos, separadamente das caixas de som. Abaixo seguem comentários sobre alguns desses equipamentos, para que vocês tenham uma ideia mais precisa do material que nós usávamos.

Nota: aliás, em muitas apresentações da atualidade parece que os tamanhos dos amplificadores retornaram, porém e logicamente com uma qualidade melhor e potência muito maior. Hoje em dia as bandas utilizam pequenos amplificadores nos palcos, que funcionam basicamente para retornos de som para os músicos, mas todos eles com saídas de áudio em linha de modo que se conectem diretamente às mesas de som e aos enormes sistemas de amplificadores e caixas de som espalhados pelos grandes eventos. 


- O amplificador Delta

Um dos primeiros equipamentos utilizados pelo Big Brasa para o som de voz foi o amplificador de marca Delta. Tinha o gabinete parecido com os rádios da mesma marca (transmissores e receptores). Aquecia demais e precisava funcionar quase sempre com a tampa aberta, para receber mais ventilação. Em uma das funções do Big Brasa, o nosso Delta começou a apresentar defeito. Então o meu pai, cheio de boa vontade, foi se meter a técnico e, inocentemente, meteu a mão dentro dele para apertar uma válvula de saída de áudio, daquelas do tipo chupeta. Queimou a ponta do dedo, logicamente! Além do susto, o choque também não deve ter sido pequeno. E por brincadeira eu dizia, ainda vai, Mestre Alberto? E ele respondia, sorrindo: “É, aquela foi de lascar!”, se referindo ao episódio.

O superaquecimento dos amplificadores foi um problema difícil para o conjunto. Eles ficavam mesmo que fogo e exatamente por isso apresentavam defeitos com maior facilidade do que os atuais, queimando ou danificando os filamentos das válvulas. Um dos macetes que descobrimos após algum tempo foi o de não transportar os equipamentos logo após de desligá-los. Assim os bigus esperavam um tempo suficiente para que as válvulas esfriassem e pudessem ser movimentadas sem quebrar seus filamentos e queimar. Mais tarde, o papai apresentou uma ideia muito legal para a solução do problema e que foi adotada imediatamente. Foi a de comprar pequenos ventiladores, os quais, sobre uma chapa de sustentação colocada embaixo dos amplificadores, passavam o tempo todo ligados, no deixando o superaquecimento chegar. Os prejuízos decorrentes de equipamentos quebrados por esse problema diminuíram depois desta simples, mas excelente ideia.

Após o amplificador Delta surgiu mais um avanço: o serviço de som Giannini, modelo A-100, também valvulado e composto por dois módulos, que ficavam montados em um “rack”, com suas colunas de som e os seus respectivos suportes laterais. Na parte de cima do rack ficava instalado o misturador, para seis microfones, e na parte de baixo o amplificador de potência. Naquela época era um dos melhores. Comparando-se ao que existe hoje é como se estivéssemos utilizando uma mesa de som estéreo, com tudo que tem direito e muita qualidade e potência de som. Cada aquisição de equipamento causava intensa satisfação para todos, como esse serviço de som A-100, comprado na loja Mesbla, que hoje no mais existe.

Num dos carnavais que tocamos em Cascavel descobrimos que o som estava baixando (oscilando) muito por causa de uma válvula que estava frouxa em seu suporte. Quente para caramba, mas o Marcílio Mendonça (atualmente produtor e empresário do Studio ProAudio), que foi o cantor daquela jornada momina. Ele de vez em quando ficava apertando a tal válvula para que o som melhorasse. Quando comentamos o fato ele lembra e ri muito até hoje. No ano seguinte surgiram outros modelos, o A-200 e o A-300, um pouco melhores e mais potentes. Pouco a pouco, com o avanço tecnológico, novas marcas e modelos de amplificadores apareceram no mercado. Fomos renovando nosso equipamento, pouco a pouco.

- O amplificador “Tremendão”

E mais uma novidade apareceu, com o excelente amplificador “Tremendão”, da Gianinni, com boa qualidade e uma potência de 100 watts de saída, para guitarras, teclados, voz ou contrabaixo. Estes amplificadores permaneceram bastante tempo no mercado e tinham uma saída incrível. Todo conjunto musical desejava ter um amplificador Tremendão. Ele tinha quatro válvulas de saída de áudio tipo 6L6, que produziam uma sonoridade aveludada, um som mais puro. Para as caixas de contrabaixo podíamos utilizar válvulas EL-34, que se encaixavam nos mesmos soquetes (encaixes para válvulas) mas que tinham um som mais agressivo e duro, bem apropriado ao instrumento. Essas máquinas resistiam bem  rotina de ensaios e funções variadas.

- O “Reverber”

Hoje em dia temos recursos modernos, mas os sistemas de reverberação antigos tinham sonoridade inconfundível. Mais uma novidade que os amplificadores Tremendão trouxeram foi o Reverber. Consistia em um circuito ligado a um módulo, que ficava dentro do amplificador, numa caixa metálica com duas molas e pequenas bobinas, as quais pelo circuito eletrônico produziam a reverberação no som. O reverber enriquecia a qualidade de áudio nos solos e também em marcações feitas pelas guitarras, ecoando suas notas e acordes. 

Depois de acostumados ao reverber eu ficava muito bem acostumado com sua  sonoridade. A reverberação produzida podia ser controlada através de botões específicos no amplificador. Em compensação ele fazia muita falta quando apresentava algum defeito. Quando um fiozinho desligava internamente, em especial no compartimento metálico de molas e minúsculos transformadores, disparava uma microfonia danada. E desse modo o reverber tinha que ser desligado imediatamente, pois a microfonia se tornava insuportável (aquele apito bem alto, chamado tecnicamente de “retroalimentação acústica”, que incomodava bastante).
Não posso falar de reverber sem mencionar a música “O Milionário”, que O Big Brasa tocou centenas de vezes nos bailes e apresentações diversas. Esta música sem o recurso do reverber seria impraticável de ser executada, por aqueles efeitos.   
  
- O amplificador True Reverber (Gianinni)

Usávamos esse amplificador para a guitarra-solo. Tinha excelente qualidade, mas pouca potência sonora. Quando se aumentava o volume mais um pouco o som ficava distorcido.

- A caixa de som e amplificador Alex

Esse amplificador possuía muita potência. Ele nos causou espanto pela primeira vez que tivemos que abri-lo, para substituir um alto-falante que estava com problemas. Tentamos abrir a caixa da forma convencional e não conseguimos visualizar os alto-falantes! Depois de alguns minutos alguém notou uma abertura dentro da caixa e ao olharmos para cima logo os encontramos, mas em posição não convencional, ou seja, virados para baixo. A arquitetura sonora era diferente das demais, que tinham os alto-falantes parafusados na parte frontal da caixa de som.

Havia uma preocupação e a necessidade de trocar de equipamentos com relativa frequência, em razão da concorrência dos demais conjuntos. Por isso mesmo  que a maioria dos grupos não aguentava a barra e ia à falência... Por outro lado, para economizar, fazíamos reformas nos equipamentos, como troca das coberturas de napa, cantoneiras, pintura de suportes e outras. Cansei de passar noites quase inteiras, horas a fio, retirando coberturas de napa dos amplificadores e das caixas de som e recobrindo-os com novo material. Dava muito trabalho. Puxa aqui, estira dali e pronto. Amplificadores e caixas novos de novo. Volta e meia ficava um canto mal acabado mas tudo bem. No dava para ninguém notar e a economia tinha sido feita... Desse modo o esforço estava plenamente recompensado pelo prazer de nos apresentar com um instrumental novinho, bonito, e com um som perfeito.

- Consertos de emergência e as improvisações

Muitas vezes tínhamos que fazer consertos de emergência nos amplificadores, na Capital ou no interior do Estado, quase sempre com pouco ou nenhum material específico. Em uma festa que o Big Brasa animou em Pacoti, um pouco antes de iniciar nós identificamos um defeito no reverber. Levamos a caixa metálica para uma pequena oficina local e fizemos uma solda em um fio da bobina de um reverber com um ferro de soldar enorme, aquecido por uma forja! Vejam a sutileza dessa soldagem, em razão de não termos levado um ferro de soldar convencional e de pequeno tamanho.

Em outra oportunidade o Carló desmontou um amplificador de contrabaixo durante um baile, conseguiu localizar o defeito e trocar um resistor (componente eletrônico), tendo o equipamento voltado a seu funcionamento normal, com a substituto da peça, em uma rápida intervenção. Mas a verdade  que muitas vezes não conseguimos resolver os problemas facilmente. Em algumas oportunidades os amplificadores pifaram mesmo, para valer, e no teve jeito. Pela prática nós conhecíamos, mais ou menos, quando o defeito era sério ou não. E também o bom senso para decidir se daria ou no tempo para consertá-lo na hora, coisa muito difícil, por inúmeras razões, falta de peças ou componentes eletrônicos ou de meios técnicos apropriados, de material e de tempo para o reparo. Em virtude disso houve períodos em que o Conjunto Big Brasa viajava com um amplificador de reserva, para eventuais emergências.

- Os cabos e as extensões, sempre problemáticos

Tenho que falar dos cabos! Cabos e mais cabos coaxiais, para ligações dos diversos instrumentos (guitarras, contrabaixo, microfones e teclados) aos amplificadores e as extensões elétricas. Não se podia confiar muito neles, nem em seus “plugs” ou conectores. Mesmo quando não apresentavam defeito durante as apresentações, quando alguém neles pisava, ou simplesmente suas ligações se rompiam com nossos movimentos, no dia seguinte eu ia examinar e testar um por um. Isto porque na hora de dobrá-los, ao fim dos bailes poderia dar problema e alguma ligação se romper. Pegava logo o ferro de soldar, solda, alicate de corte, sentava-me no chão ou em algum banquinho e começava a revisão. Meu filho Alberto Neto, ainda criança, quase sempre ficava perto de mim observando tudo e me ajudando nessas manutenções.

- A famosa “mala-da-cobra”

Os músicos, os eletricistas e técnicos em geral sabem o que vem a ser “mala-da-cobra”. Em geral, todo técnico que se preza e também os conjuntos musicais têm este recurso. Chama-se de mala-da-cobra toda caixa, bolsa ou qualquer outro tipo de depósito para transportar os cabos, as extensões e outras miudezas necessárias ao funcionamento do conjunto, tipo plugs diversos, conectores, tomadas, fita isolante, parafusos extras e tudo aquilo que se imagina que poder quebrar numa apresentação. A tal mala deveria conter ainda ferramentas de primeira necessidade (um kit) para as emergências. Em nosso caso eu costumava levar na mala-da-cobra também alguns componentes eletrônicos que costumeiramente queimavam ou apresentavam defeitos, como alguns resistores, condensadores, além logicamente de um bom ferro de soldar, alicate de corte, fita isolante e tudo que nela coubesse.

Esse nome mala-da-cobra se justificou muito bem quando, em uma ocasião, o conjunto tinha acabado de tocar em um clube de Sobral e ao final da festa fomos guardar as tumbadoras em seus estojos de proteção. Dentro deles foi encontrada uma cobra, desta vez de verdade! Que susto. A cobra, certamente se encantou com o som do Big Brasa e com o calor dos estojos. Felizmente saiu do esconderijo e ninguém ficou machucado. 

- A primeira bateria do Conjunto Big Brasa

Toda azul, com as partes metálicas de cor cinza metálico, a primeira bateria que o Big Brasa usou foi adquirida da charanga do Gumercindo, líder da torcida do Fortaleza Futebol Clube. Lembro como se fosse hoje da alegria que todos sentimos depois que meu pai concretizou o negócio. No primeiro mês de utilização ela sofreu uma pequena avaria. Quebrou um suporte do bumbo.

Em razão da necessidade de uso nas festas passou um tempo assim. Para vocês terem uma ideia, para que o bumbo se sustentasse em firme era preciso colocar um transformador velho de lado para servir de apoio... Assim mesmo velha, recebeu logo uma pintura nova e nos prestou inestimáveis serviços. Possua excelente sonoridade e suas peles eram de couro mesmo (tínhamos que saber como colocá-las nas armações). Ainda não havia as facilidades das peles de nylon, modernas e facilmente substituíveis.  

- A bateria Pinguim

Em madrepérola branca, de marca Pinguim, uma das melhores no momento, era de excelente qualidade e muito bonita. Foi comprada em São Paulo. A minha mãe Zisile negociava bordados de Fortaleza com minha Tia Zenóbia, que ainda residia em São Paulo. Aproveitando uma das transferências que receberia por conta dos negócios ela pediu ao tio João que fizesse a compra de uma bateria “novinha em folha”.

Quando este instrumento chegou foi motivo de admiração por todos nós. A bateria depois de montada ficou linda. O meu pai, na preocupação de preservá-la em bom estado, mandou logo fazer uns estojos para todos os seus apetrechos. Por essa excelente providência  que essa bateria teve longa duração, sempre bem conservada e em ordem.

- A primeira distorção em Fortaleza!

Iniciativa, curiosidade e vontade de fazer! Contarei para você como foi que surgiu a primeira distorção do Big Brasa e de Fortaleza. Para que os mais novos tomem conhecimento ocorreu uma verdadeira pesquisa, com pleno êxito. Naquela época não existia o “Tio Google” para as consultas e nem o Youtube com a infinidade de vídeos ensinando praticamente tudo! Tínhamos que fazer mesmo, simplesmente assim. 

Foi assim que a ideia surgiu: ao ouvir umas gravações, a fim de escolher músicas para nosso repertório, notava alguns sons de guitarras super pesados, mas não sabia como é que os caras conseguiam aqueles efeitos. Um tempo depois, ainda pensando no assunto, soube que existia um aparelho, que conectado guitarra, produzia aquele som rachado e distorcido. Esse tal aparelho se chamava de distorção. Fiquei louco de vontade de conseguir um som daquele tipo e comecei a falar com todo mundo que eu achasse que poderia ter uma ideia. Escrevi uma carta para o tio João e, depois que ele fez sua pesquisa em São Paulo não conseguiu descobrir nada, para nossa tristeza. E continuei procurando o tal aparelhinho (distorção) sem nada conseguir...

Na verdade eu nem sabia o nome do aparelho direito, muito menos o Tio João, que leigo em música, não conhecia mesmo o som que eu procurava. Pois olhem, segue a dica: quando desejarem alguma coisa, finquem o pé e batalhem, lute e tome iniciativas que certamente serão bem recompensados”.

Um belo dia, em minhas conversas com colegas, disse para o Júlio Matos, um amigo nosso também aficionado por eletrônica, que estava querendo comprar uma distorção mas não sabia onde. Para meu espanto ele me falou que tinha uma revista de eletrônica com um esquema, ou seja, o diagrama de montagem de uma distorção. Foi demais! O bom é que o Julinho gostava do assunto e sempre foi um técnico muito competente e pesquisador. Assim ele ficou interessadíssimo e disse que poderíamos tentar montar a tal distorção.

Compramos todos os componentes necessários para a montagem e depois de poucos dias estava ele, com uma caixinha de metal, que deveria ter sido de alguma outra montagem ou experiência anterior. Com muito cuidado, localizamos quais os locais de entrada e de saída de som, para que a guitarra fosse conectada ao aparelho e este ao amplificador. Fizemos os cabos necessários, todas as devidas soldas, plugs e pronto. Preparamo-nos para o resultado. Acreditem: neste momento mais parecíamos dois soldados tentando desarmar uma mina, na expectativa de uma explosão, tal era nosso grau de ansiedade. Suspense total. Após ligar tudo, peguei a guitarra e toquei algumas notas. De início, nenhuma alteração e ficamos naquela, os dois meio sem jeito, sem olhar um para o outro. Fui tocando mais um pouco e mexendo nos dois potenciômetros (botões de regulagem) que o aparelhinho possuía. De repente, o som ficou mais forte e pesado, começando a distorcer. Nessa hora, eu comecei a rir muito e a dizer:

-  “É isso aí cara, este é o som que estava querendo, deu certo!” O Julinho estava incrédulo, visto que ele próprio no sabia que som ou efeito sua montagem seria capaz de produzir.

- Mais novidades com os pedais “wah-wah”

O Conjunto Big Brasa sempre procurou criar um diferencial e fazer inovações. Também foi o primeiro conjunto musical de Fortaleza a usar o pedal conhecido como wah-wah, que fez um sucesso enorme em nossas apresentações. Pouco tempo depois da distorção caseira por nós construída o nosso pioneirismo continuou, desta vez com a aquisição de dois pedais do tipo wah-wah, em Recife. Os equipamentos causaram admiração geral em todos que ouviam o seu som, tanto que algumas pessoas ficavam, sem querer, balançando a boca, imitando os sons “wah-wah” que minha guitarra produzia com os tais pedais.

Inauguramos o wah-wah durante todo o Festival Nordestino da Música Popular, realizado no Náutico Atlético Cearense, que teve como vencedora a música Beira-Mar, do Ednardo, acompanhado pelo Big Brasa. Ligado  guitarra-solo produzia sons diferentes e foi motivo de admiração. Algumas pessoas chegavam a ficar com a boca fazendo o movimentação correspondente ao wah-wah.

Ao longo de minha carreira como guitarrista-solo usei várias marcas de pedais desse tipo. Sua característica, para quem é leigo ou não conhece esse pedal de efeito, é a de possibilitar a que o músico alterne rapidamente de um som agudo para um grave e vice-versa, através de movimentação com o pé, produzindo efeitos espetaculares. Daí o nome desse pedal ser wah-wah.

- Modificações na minha guitarra

Tive umas quatro ou cinco guitarras durante a existência do Conjunto Big Brasa. Cuidava muito bem delas, como tenho zelo por tudo que possuo até hoje. O músico que se preza tem que tratar muito bem de seus instrumentos e acessórios musicais, conservando-os sempre da melhor maneira possível. Uma dessas guitarras, a que mais gostava foi uma Supersonic, fabricada pela Giannini, que passou a ter uma sonoridade deferente. No princípio eu a usei por algum tempo sem modificação nenhuma. Essa guitarra possua uma característica importante para um solista. Com ela eu conseguia utilizar a alavanca diversas vezes sem que ela perdesse a afinação (para quem  músico fica mais fácil entender). Nos improvisos em rocks e blues isso  fundamental. Assim eu podia usar e abusar dos efeitos com a alavanca, que a guitarra suportava muito bem, continuando afinada.

Inspirado nas novidades, um dia resolvi melhorar aquela guitarra, nas suas formas e em seu som. Vale lembrar novamente que em Fortaleza não havia quase nada em termos de opções, nos Anos 60 e Jovem Guarda. E se o músico quisesse inovações tinha que se virar por conta própria. Assim parti para a ação e desmontei minha guitarra completamente. Inclusive seus componentes eletrônicos, como os três captadores de som, sistema de alavanca, molas, cavalete, braço, tudo. Ao final eu olhei para as peças e pensei: será que vai dar certo? Com uma pequena serra “tico-tico”, limas e lixas, cortei um pouco suas formas de modo que ela ficasse parecida com uma guitarra Fender, uma das melhores do mundo. Depois começou a parte dos acabamentos. Apliquei massa como se faz numa pintura de automóvel, no sentido de laqueá-la. A pintura de branco foi aplicada com pistola, com um cuidado todo especial. Ficou muito legal, parecendo até mesmo de fábrica.

Para a mudança da sonoridade instalei um novo conjunto de captadores importados, que tinha adquirido durante uma de minhas viagens à Zona Franca de Manaus. Escolhi um deles em substituição a um dos originais, por ter uma sonoridade bem interessante. Detalhe: andei mexendo um pouquinho nos pequenos circuitos dos controles de graves e agudos, acrescentando ou modificando, na base da experimentação em alguns capacitores (componentes eletrônicos que, dependendo de onde são usados, alteram o som). Enfim encontrei uma sonoridade perfeita para meu uso. Passei então à fase crítica da montagem de todos os componentes, para que ficasse afinando bem e conseguindo todas as oitavas numa boa. Com um encordoamento zerado, não lembro a marca, comecei a testar a nova guitarra. Deu tudo certo! Estava com uma verdadeira Fender de fabricação caseira, que me serviu por muito tempo e que até hoje me traz ótimas recordações. O sucesso nesta verdadeira operação foi pleno! A guitarra Supersonic se transformou em uma guitarra importada, para os meus sentimentos, possibilidades e gosto musical. E de tempos em tempos podia até levar um polimento, tendo em vista que a tinta utilizada era propícia para isso. Ficava sempre novinha e muito legal.

O som ficou muito parecido com a da guitarra Fender. E sinceramente eu achava muito melhor, principalmente pelo fato de ter dado certo e ter sido modificada por mim! Melhorava assim mais um diferencial do Big Brasa.   

- O primeiro órgão eletrônico

A aquisição do primeiro órgão eletrônico, de marca Diatron foi feita pelo meu pai, Alberto Ribeiro. Fomos juntos escolher o equipamento e mais um melhoramento tinha sido conquistado pelo Conjunto. Com a presença do órgão eletrônico o Big Brasa evoluiu muito, tendo em vista o aumento das possibilidades de arranjos, combinação das sonoridades, marcação rítmica e base harmônica mais completa, além dos próprios solos do instrumento. Este Diatron não tinha muitos recursos, se comparado aos equipamentos modernos. Possuía um vibrato e alguns timbres diferentes, com os controles de graves, agudos e volume, este feito através de um pedal que volta e meia apresentava defeito, quase sempre em seu cabo de ligação ao equipamento. O segundo órgão adquirido pelo conjunto foi um Novatron, com algumas novidades, mas a mesma essência do modelo anterior. Neste período tivemos também um teclado Minami, adquirido em São Paulo, de qualidade muito boa.  

Falando ainda de teclados que o Big Brasa usou, inovamos bastante. Quando passei a tocar teclados eu logo adquiri três pedais (sustainner, phaser e flanger), os quais interligados ao órgão produziam sons bem diferentes dos usuais, despertando muita atenção por seus efeitos sonoros. E olhe que os sons produzidos eram na essência muito diferentes e assemelhados a teclados e sintetizadores bem recentes...

- A utilização de sintetizadores, com seus múltiplos recursos

Além de órgãos eletrônicos utilizei diversos outros teclados, a exemplo de um sintetizador monofônico (para os que no leigos, que tocava uma nota de cada vez, no produzindo acordes). Pouco tempo depois fui a São Paulo e adquiri um sintetizador polifônico, mais moderno. Com ele a parte harmônica funcionava bem, visto que os acordes soavam normalmente e com excelente qualidade. Entretanto a dificuldade para programar os diferentes sons e efeitos era grande. Perdia-se muito tempo e tínhamos que ser mais operador do que músico, na realidade. Não satisfeito com esse equipamento, troquei-o em Fortaleza por um órgão eletrônico de dois teclados e comprei outro sintetizador, o Poly-800. Com eles passamos a ter sons com timbres muito bonitos e efeitos incríveis.

Começava a fase que perdura até os dias atuais, na qual um músico não pode ser apenas instrumentista. Tem que ao mesmo tempo ter habilidade suficiente para operar os equipamentos, programá-los etc. Daí por diante chegaram os sintetizadores mais pesados, tipo DX-7, da Yamaha.

O primeiro modelo DX7 era excelente, em seus diversos aspectos. Com sua qualidade de som espetacular, o equipamento pesava aproximadamente oito quilos e possua um teclado de cinco oitavas, muito macio. Possibilitava ao músico nele programar, ou seja, criar seus próprios sons e timbres à vontade e armazená-los em sua memória. O DX7 vinha equipado com um cartucho que continha uma infinidade de sons programados, além daqueles previamente gravados de fábrica. Adquiri depois outros cartuchos RAM, aqueles nos quais podíamos gravar e assim programar sons, timbres e combinações de sons prediletos para poder utilizá-los em outro DX7, se necessário.

Mais tarde tive um teclado Roland, modelo E-20, de excelente qualidade. Com esse instrumento eu e o Airton França (ex-pistonista do Big Brasa) formamos uma dupla interessante. Ele com um violão de marca Ovation, de sonoridade ótima e cantava (muito bem, por sinal). Em alguns arranjos até mesmo tocava piston e eu fazendo alguma parte de vocalização e tocava órgão e sintetizador.


Na fase dos órgãos eletrônicos modernos, cheguei a utilizar alguns desses teclados que fazem tudo, com bateria, baixo, harmonia e efeitos para solo de diversos tipos. Chamados também de desempregadores de músicos, visto que um tecladista com um desses equipamentos pode substituir um conjunto inteiro, dependendo do ambiente que esteja trabalhando. Associado a esses órgãos eletrônicos cada vez mais perfeitos, mantive por muito tempo um sintetizador DX7 - II, da Yamaha, que possibilitava centenas de possibilidades de programação, enfim, um instrumento utilizado pelos melhores grupos no mundo inteiro e  com ele utilizava um teclado Roland, também de sonoridade excelente.