Em 1988, para comemorar vinte anos de música
tive a ideia de promover uma festa que se denominou “20 Anos de Embalo”, com a participação de músicos do Big Brasa, do
conjunto “Os Faraós” e vários artistas locais.
A grande festa,
amplamente divulgada através da imprensa local, foi realizada no Balneário
Clube de Messejana, no dia 09 de julho de 1988, e obteve pleno sucesso, tanto
assim que foi seguida por mais outra, semelhante, poucos meses depois. A
iniciativa dessa promoção foi muito bem acolhida por todos. O objetivo
principal da realização desse evento, para mim, foi o de reencontrar amigos da
época, músicos ou não, além de registrar tudo aquilo em áudio e vídeo, pelas
facilidades que temos hoje para, de certo modo suprir a ausência de gravações
em vídeo dos tempos mais antigos. Havia
um entusiasmo e, ao mesmo tempo, um sentimento de saudade por parte dos que
participaram efetivamente daquela vivência musical. Por outro lado, grande
expectativa e animação dos mais jovens,
nossos filhos e seus colegas, que ansiosamente desejavam ver seus pais atuando
no palco de novo.
- Nota de imprensa “Os embalos da
década de 60”
O jornal “O Povo”, em edição de 09 de julho
de 1988, na coluna Saudosismo, publicou
uma extensa matéria sobre o evento, sob o título “Os Embalos da década de 60” . A referida nota afirmava:
“No final dos anos sessenta dois grupos
musicais eletrizavam a juventude cearense com suas participações nas festas que
animavam nos mais diversos locais. Eram Os Faraós e o Big Brasa., que em suas
exibições, além dos sucessos da época, tinham como base um repertório pautado
nas composições dos Renato e seus Blue Caps, The Beatles e Rolling Stones. Após
duas décadas dessa efervescência alguns dos ex-integrantes dos dois grupos
voltam a tocar e cantar juntos, na perspectiva de relembrar momentos dançantes
passados e atuais. A primeira de uma série que se intitula “Vinte Anos de
Embalo” vai acontecer hoje”...
Nesta reportagem, seguindo os comentários
sobre diversos aspectos musicais daquele período, há um trecho da entrevista
concedida por mim ao repórter, na qual afirmei:
“ Foi uma experiência bem vivida. Tocávamos
com todos os artistas que se exibiam no programa do Augusto Borges. Eu fazia a
seleção dos calouros e estiveram conosco vários bons cantores e cantoras,
dentre eles Maria Zenáide e as irmãs Lena e Leda, esta última se tornaria a
“MissLene”. Acompanhamos muitas vezes o Jorge Mello, o Belchior e o Ednardo,
com quem chegamos até a defender uma música – Beira-Mar - em um festival em Recife”.
Na mesma entrevista concedida para o Jornal O
Povo, procurei traçar um paralelo com as músicas e grupos atuais fazendo a
seguinte colocação:
“Hoje em dia falta melodia nas músicas. São
meio brutas, onde a harmonia não é lapidada adequadamente. Isso não existia nas
músicas do Renato e seus Blue Caps. As composições dos Beatles nem se fala,
pois eles usavam mais romantismo e trabalhavam bem melhor os arranjos”.
Ao final, a publicação informava que os
ingressos para os “Vinte Anos de Embalo” eram limitados e que do show
participariam várias pessoas que viveram intensamente nos palcos a época da
Jovem Guarda. Entre eles Edson Girão (voz e guitarra), Luciano Franco
(contrabaixo) e João Ribeiro - Beiró (teclados), como os três ex-membros do Big
Brasa; Luisinho (guitarra e voz), Sebastião (vocal e contrabaixo), Vicente
(guitarra e vocal) e Antônio (bateria) pelos Faraós. E ainda a presença de
Roberto Carioca (cantor), Rinah e Laury (cantoras).
A promoção foi um sucesso e obteve ampla
repercussão em Fortaleza. Todos os seus objetivos foram plenamente alcançados,
dentre eles o principal, ou seja, o de realizar uma confraternização com todos
aqueles que participaram daqueles bons tempos.
Outra matéria sobre o evento foi escrita pelo
jornalista e músico Luiz Antônio Alencar e publicada no jornal Tribuna do
Ceará, edição de 08 de julho de 1988. "It was twenty years ago today,
Sargent Peppers taught the bend to play." (Foi há vinte anos atrás que Sargento Pimenta
ensinou sua banda a tocar). Com essa frase os Beatles lançavam em abril de
1967, o seu sétimo e mais controvertido LP na Inglaterra, o Sargent Peppers
lonely Hearts Club Band, com toda uma revolução sonora e poética.
Em Messejana no mesmo mês surgia, de um grupo
de jovens apaixonados por toda e exuberante enxurrada de inovações da época, o
Conjunto Musical Big Brasa, bem inscrito dentro dos padrões vigentes da jovem
guarda. Composto por João Ribeiro, Carlomagno (Carló), João Dummar Filho,
Marcos Oriá e Severino Tavares, usando equipamentos feitos aqui mesmo pela
banda “Os Rataplans”, que com caixinhas de som primitivas de seis watts de
potência, resolveram inaugurar no Ceará
a tal estrada do rock, hoje tão difundida em outros grupos.
Tendo como prefixo a música And I Love Her,
dos Beatles, o Big Brasa logo passou a introduzir inovações no cenário musical
local, que eram privilégios dos grandes centros. Em um curioso paralelismo, as
bandas pioneiras e músicos de Heavy Metal, como Rolling Stones, Jimmy Hendrix
Experience, Cream, com o Eric Clapton, introduziam efeitos como a distorção,
obrigatória em toda banda metaleira, o wah-wah, e outros recursos, e o Big
Brasa não deixava por menos: os adotava em seus bailes para consternação dos mais velhos, com ouvidos
“nelsongonçalveanos”, e para a excitação da moçada”.
E continuava, referindo-se a um “Coroa muito
doido”, dizendo:
“... O mais interessante era que o mentor de
toda a história era um senhor de quase cinquenta anos, maçom, de nome Alberto
Ribeiro da Silva, que além de dar uma
força e orientação para a moçada,
mandando “sentar o pau no rock”, ainda se deslumbrava com os sucessos dos
Beatles, como Help, Hello Good Bye e Boys, ou então com Satisfaction, Jumpin
Jack Flash e Under My Thumb, dos Rolling Stones, essa última sua predileta. Com um vigor de fazer inveja a muito gatão de
hoje em dia, ele se entusiasmava quando o rock fervia no palco, incentivando-o
como um regente. Roqueiro de cabeça feita, exigia que a turma abrisse o gás, o
que a garotada cumpria com muito gosto. Pode-se dizer que este avançado senhor,
eternamente jovem, foi uma das peças incentivadoras do rock aqui no Ceará,
quando ainda era uma coisa muito “revolucionária”.
“E pasmem - ainda chamava os seus amigos e
companheiros de geração que torciam o nariz ante a barulheira de seus pupilos
de "caretas e quadrados" e os espinafrava com uma irreverência de
fazer inveja ao próprio John Lennon. Nem é preciso dizer que o Big Brasa
inteiro adorava o Mestre Alberto, como ele era carinhosamente chamado. Em 1968,
no auge do movimento hippie, o Big Brasa aumentou sua tonelagem sonora com
equipamentos avançadíssimos para a época, e músicos como o Peninha, Lucius
Maia, Adalberto Pereira, Edson Girão, Luciano Franco, Edir, Joãozinho Lennon,
Lurdinha, passarem a compor o dinâmico plantel do Big Brasa, que inclusive
acompanhou e fez arranjos para os primeiros shows do cantor e compositor
Ednardo, bem como inspirou, em primeira instância, o guitarrista Manassés, um
dos melhores do mundo, mas que na época, assistia aos solos do João Ribeiro
(Beiró) no Maranguape Clube com um brilho de admiração no olhar. Após quase
sete anos ligado à televisão cearense, especificamente nos programas Studio 2
e Show do Mercantil, da extinta
TV Ceará, o Big Brasa debandou em 1977” .
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe sua mensagem no Blog e participe desta época inesquecível dos Anos 60 e Jovem Guarda!