Em Recife, Pernambuco, o Conjunto Big Brasa participou
duas vezes das finais dos Festivais Nordestinos da Música Popular,
televisionados para todo o Norte e Nordeste. As transmissões pela EMBRATEL
naquela época consistiam novidade e motivo de repercussão na imprensa, visto
que apenas eventos de grande vulto mereciam tal destaque.
Não existiam as redes nacionais de televisão,
como atualmente. Eventos transmitidos assim eram esporádicos. Os anúncios na
televisão diziam: “Festival Nordestino da Música Popular com transmissão ao
vivo para todo o Norte e Nordeste”.
Big Brasa e Ednardo em Recife - Revista “O Cruzeiro” |
Sobre o primeiro Festival, realizado em
dezembro de 1971, trecho de uma nota publicada por um jornal cearense: “Está
seguindo na próxima sexta-feira para a capital pernambucana a equipe de
compositores e intérpretes que apresentarão as composições selecionadas em
Fortaleza para concorrer ao II Festival da Música Nordestina. Entre a turma de
músicos cearenses se destaca a participação do Conjunto Big Brasa, que
defenderá as músicas Beira-Mar e Rua do Ouro, classificadas em primeiro e
quarto lugares respectivamente”.
Pouco antes da final do primeiro Festival
Nordestino da Música Popular que o Conjunto Big Brasa participou em Recife,
defendendo músicas do Ednardo, adquirimos em São Paulo dois pedais do tipo
wah-wah de marca nova. A ideia era usar um para a guitarra-solo e outro para o
órgão. A aquisição desses equipamentos foi um verdadeiro show de competência e
de logística do tio João. Tudo muito rápido, a aquisição, a remessa e enfim a
chegada dos pedais em tempo recorde. Fomos receber a encomenda no Aeroporto,
diretamente no departamento de bagagens da VARIG, quase às 23 horas. Deu tudo
certo, os pedais foram incorporados ao nosso instrumental e utilizados de
acordo com o planejamento.
- Transmissão
ao vivo para o Norte e Nordeste
A respeito desse Festival, que foi
televisionado para todo o Norte e Nordeste (na época uma transmissão por demais
comentada), lembro de alguns acontecimentos interessantes. Um deles durante o
ensaio geral, no Ginásio Coberto localizado no bairro Embiribeira (idêntico ao
Paulo Sarasate, de Fortaleza, porém mais bem acabado, pois tinha alojamentos, restaurante
e uma área externa bem maior).
No ensaio do Conjunto Big Brasa com a
orquestra de Recife, acompanhando a música Beira-Mar, do Ednardo, o maestro
ficou entusiasmado com a música e o arranjo. Também entre os músicos da
orquestra a opinião unânime era a de que aquela música tiraria o primeiro
lugar. Mas para ganhar em Recife não tinha jeito! Ficamos apenas com um
terceiro lugar e uma menção honrosa. Valeu, entretanto, a extensa reportagem sobre
o Festival publicada na extinta Revista O Cruzeiro (a qual está no acervo do
Big Brasa), transcrevendo com destaque e na íntegra a letra de Beira-Mar e
publicando a foto do Ednardo, acompanhado pelo Conjunto Big Brasa e pela
orquestra de Recife.
- A
torcida e as vaias para os concorrentes
A torcida pernambucana nesses festivais se
assemelhava ao que ocorria com as rivalidades por conta do futebol, sendo
totalmente contrária às delegações da Bahia e do Ceará. Um segundo fato
interessante deste festival, que eu nunca esquecerei, foi que durante o
intervalo da TV, quando nos preparávamos para entrar no ar com o Ednardo, o público
do Ginásio, que estava completamente lotado, começou a vaiar intensamente o
Ednardo e o conjunto. Estávamos todos muito nervosos, evidentemente. E tome
vaia, mesmo porque eles vaiavam tudo que fosse do Ceará. Um cara da plateia
tocava uma buzina que emitia um som engraçado e depois vinha a vaia. Mas, por
felicidade e presença de espírito, talvez, peguei o tom daquela buzina na
guitarra e com o wah-wah, após o cara tocá-la, reproduzi o som no palco com a
guitarra a plena altura! Depois sucessivos toques e de minha respostas com a
guitarra o pessoal gostou e tudo virou brincadeira. Alguns até aplaudiram e a
vaia rapidamente cessou. Foi ótimo para todos nós. Por último faço questão de
registrar a verdadeira e inadmissível falha
do maestro da orquestra pernambucana, que na hora de começar a apresentação do
Ednardo, veio me perguntar o andamento da música para fazer a introdução, com a
orquestra. Eu expliquei para ele, cantei as primeiras notas da melodia,
gesticulando com as mãos o andamento correto. Mas qual foi nossa surpresa,
quando esse maestro iniciou Beira-Mar com um andamento completamente acelerado!
E nosso baterista estava com a orquestra. Foi uma luta nos segundos iniciais
para tentar fazer o andamento retroceder ao original, uma verdadeira briga entre
a orquestra e o Conjunto. De propósito ou não o fato é que isso certamente
contribuiu para atrapalhar o Ednardo, que ficou mais branco do que pó de giz
durante toda a música. Esse pequeno deslize do maestro pernambucano prejudicou
de forma significativa nosso desempenho naquela noite.
Nas folgas, depois dos compromissos com
ensaios, saímos em grupo para conhecer os pontos principais de Recife. Com
quase tudo financiado pela TV Ceará, ou Diários e Emissores Associados do
Ceará, da Rede Tupi. Conhecemos duas adegas muito bonitas e aconchegantes, que
apresentavam shows noturnos. A Adega do Bocage e a da Mouraria. Estivemos
também na praia da Boa Viagem e em alguns pontos turísticos da cidade.
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