- A
seleção de calouros
A participação musical do Big Brasa no Show
do Mercantil tinha início às noites das quartas-feiras, quando eu fazia uma
seleção de calouros para se apresentar no programa seguinte, na qualidade de
produtor musical. Funcionava assim: no auditório da TV Ceará os candidatos
chegavam cedo e o ensaio era iniciado por volta das 20:00 horas. Ao lado do
palco, ao piano ia chamando os calouros por ordem de chegada e perguntava-lhes
o que gostariam de ensaiar. Depois do acompanhamento de cada candidato, fazia
algumas anotações para escolher os melhores e fazer o anúncio dos aprovados ao
final, aqueles que se apresentariam no programa do sábado seguinte. Em cada
ensaio eu ouvia em média trinta candidatos para escolher apenas quatro, estes
que ensaiariam na sexta-feira com todo o conjunto.
Um ensaio ensaio-geral era realizado às
sextas-feiras, quando o roteiro do programa ficava pronto. O conjunto Big Brasa
ensaiava com as músicas com os calouros com introduções, até que ficassem no
ponto para o programa. Alguns deles ainda erravam algum detalhe no sábado, motivados
pelo nervosismo. Depois desse ensaio as entradas das músicas eram repassadas de
forma muito rápida, no sábado, pouco antes do início do programa, apenas para
relembrar.
Vários foram os artistas cearenses que o
Conjunto Big Brasa acompanhou, alguns cearenses e outros deles de fora do
Estado, a maioria famosos e com projeção nacional. Foram quase sete anos com
atrações todos os sábados. Em muitos desses programas cantores de fora, quase
sempre vindos do sul do País. A seguir estão listados alguns deles, em ordem
alfabética: Adriano (Francisco de Assis), Carlos Imperial, Belchior, Cauby
Peixoto, Cláudia Barroso, Demétrius, Dóris Monteiro, Ednardo, Jorge Melo, Luís
Vieira, Mardonio, Márcio Greick, Pablo Sebastian, Pekin, Rodger, Sandra Sá,
Wanderley Cardoso, dentre outros. O próprio Roberto Carlos chegou a se
apresentar no programa, acompanhado do também famoso “RC7”, a sua espetacular
banda musical. Eduardo Araújo e Silvinha da mesma forma.
- Nosso
encontro com o Rei do Baião
Em um dessas tardes de sábado, o Big Brasa
estava preparado. Com o auditório da televisão lotado, o programa naquele dia
apresentaria muitas atrações. A produção musical, sob minha responsabilidade,
tinha preparado alguns novos cantores da terra, selecionados entre aqueles que
tinha sido calouros. Além disso apresentaria o próprio quadro de calouros e
alguns números do Conjunto Big Brasa, músicas de sucesso recentemente
ensaiadas. Para aquele dia, a produção
do programa, através de diversas chamadas (comerciais do programa exibidos
durante a programação durante a semana) tinha anunciado uma grande surpresa
para o público.
No início do programa o Augusto Borges
adiantou a atração, que seria o famoso compositor e músico Luiz Gonzaga, nada
menos do que o Rei do Baião, como ficou conhecido internacionalmente. Durante
os intervalos saíamos do palco para a ante-sala do programa. Nesse dia
estávamos também querendo ver de perto o Rei do Baião. De repente em uma desses
intervalos nos deparamos com o próprio Luiz Gonzaga, calmamente sentado com sua
sanfona, aguardando a vez de sua apresentação. O meu pai Alberto Ribeiro, muito
entusiasmado com aquele encontro, pois era um dos fãs daquele artista, disse
para o pessoal do conjunto, na frente do Luiz Gonzaga, em tom de brincadeira: “Vocês
deveriam se perfilar em homenagem a este grande artista”, referindo-se ao Luiz
Gonzaga. Ele permaneceu sentado e, sorrindo bastante para nós, respondeu: “deixe
os meninos, que eles estão na deles”... E
naquele instante todos nós cumprimentamos o famoso Rei do Baião, com satisfação
por mais aquele encontro com gente famosa. Naquele momento o Luiz Gonzaga
deixou a impressão, para mim, de ser um artista extremamente simples e
simpático, além naturalmente de tudo aquilo que produziu em seu inestimável
legado musical.
O Conjunto Big Brasa quase sempre apresentava
um número na abertura e mantinha algumas músicas para preencher alguma lacuna.
Acompanhava a apresentação dos calouros e praticamente todos os cantores que
vinham do Sul do País para temporadas em Fortaleza. Adquirimos muita
experiência musical por causa disso. Tínhamos mesmo que ter bastante prática
para pegar rapidamente os acompanhamentos das músicas. Ou então tê-las ouvido
com antecedência para fazer as harmonias na hora do ensaio. E depois memorizar
tudo para não falhar durante o programa, que era transmitido sempre ao vivo.
Sempre havia muita movimentação no Show do
Mercantil. Auditório lotado, muita gente mesmo. Nos bastidores do mesmo jeito.
Quem conhecia as dependências da TV Ceará, com seus corredores amplos, sabia
como chegar ao auditório do programa por dentro. E muitas vezes tudo ficava
meio tumultuado, com o pessoal querendo ver os artistas.
Na verdade eu sempre tinha que estar muito atento durante
o programa para que tanto a minha participação como produtor musical e a do
Conjunto Big Brasa fossem sempre exemplares. Todos os meus amigos de conjunto
possuíam o mesmo interesse, senso de responsabilidade e contribuíram significativamente
para este sucesso, pelo seu comportamento exemplar nos ensaios e durante os
programas.
- Os operadores de câmeras
Os que trabalharam durante mais tempo conosco foram o Fred e o William,
conhecido por “Irmão”. Eles tinham que ter muita agilidade nas operações com
seus equipamentos, particularmente no início, com as câmeras RCA, americanas,
em preto e branco. As câmeras não possuíam o recurso de aproximação, o “zoom”,
tão comum hoje em dia em qualquer filmadora. Na frente de cada câmera existia o
que eles chamavam de “torre de lentes”, ou seja, um conjunto de quatro lentes
que eles tinham que alternar de acordo com a distância dos objetos em foco.
Havia o perigo, por exemplo, de um operador de câmera mudar de lente inadvertidamente,
quando a sua câmera estivesse “no ar” - a chamada falha técnica.
- A equipe de
produção
O programa, durante os quase sete anos que o Big
Brasa participou, era produzido pelo Tertuliano Siqueira, Oliveira Martins e seus
auxiliares. Tinham boas ideias. Produzir e dirigir um programa de televisão
semanal em Fortaleza, com duas horas e meia de duração não é fácil. A produção tem
que se virar para conseguir material e atrações. Entrevistas diversas, artistas
de fora do Estado e curiosidades, como o quadro “Fora de Série” faziam parte do
show.
- A distribuição das
sacolas e brindes
Um dos momentos que mais agradava ao público presente no auditório,
que ficava bastante agitado, era quando o Augusto Borges mandava distribuir as
sacolas do Mercantil São José, sempre recheadas com diversos produtos de qualidade.
O Mercantil (patrocinador do programa) encaminhava para a TV Ceará uma porção
de mantimentos para serem acondicionados em sacolas e distribuídos ao público
no decorrer dos programas. Além do público os participantes do Big Brasa,
bigus, técnicos e o pessoal da produção também eram premiados com o brinde do
mercantil.
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