Programa de muita audiência, no qual o Conjunto Big
Brasa se apresentou diariamente por quase três anos. Levado ao ar pela TV
Ceará, cada programa abordava temas diversos, baseados em entrevistas. Diversos
artistas nacionais, cantores, pessoal de teatro e outras personalidades de
destaque participaram do “Studio 2” .
A formação básica do Conjunto Big Brasa naqueles anos era a seguinte: Severino
Tavares (bateria), Lucius Maia (contrabaixo e vocal), Adalberto Lima (teclado),
Edson Girão (guitarra e vocal) e eu, João Ribeiro (guitarra-solo).
Dentre os que eu lembro a Dercy Gonçalves com sua irreverência e
brincadeiras, mas sendo muito comedida e sem usar nenhum palavrão, tendo em
vista a censura existente no período. O famoso músico Zé Menezes também foi
acompanhado pelo Big Brasa. No dia em que esteve no programa ele usou minha
guitarra, para executar alguns solos e improvisos.
Às vezes a contra-regra produzia
um cenário um pouquinho melhor do que as simples cortinas e tapadeiras, que
eram divisórias de compensado para encobrir um ou outro defeito do cenário.
Colocavam mesas e cadeiras como num bar, com platéia e o ambiente ficava mais
alegre e descontraído. A luta do pessoal
do estúdio era sempre no sentido de manter o silêncio daqueles que não estavam
em cena, para não atrapalhar o programa realizado “ao vivo”.
Durante praticamente toda a semana deixávamos o instrumental no amplo
estúdio da TV Ceará onde se realizava o “Studio 2” . Nosso material era levado
para apenas para os ensaios do conjunto. O som do “Studio 2” sempre foi melhor que o do
Show do Mercantil. Deve-se isso, com certeza, aos operadores de áudio e de
microfones, além da própria acústica do ambiente. No estúdio a distribuição se
fazia com uma “girafa”, que para quem não sabe é um suporte bem grande, como um
guindaste, que pode movimentar o microfone por cima de todo mundo, captando bom
o som de cada cena. Havia também os microfones de lapela e os “varacionais”,
termo que nós usávamos como brincadeira. Explico: como a TV não possuía
microfones direcionais, aqueles que captam bem o som em uma determinada
direção, o pessoal da equipe técnica adaptava um microfone comum, forrado com
esponjas, a uma vara ou haste de metal ou madeira. Por causa dessa
improvisação, ficaram conhecidos por nós como os microfones “varacionais”.
Os câmeras procuravam “detalhes” em todos os lugares que podiam para
ser mais criativos. Eles nos colocavam “no ar” diversas vezes sem estarmos
tocando, em qualquer posição, de preferência quando a gente não notava que
seria focalizado. Lembro-me muito bem do William, o “Irmão”, do Fred e o Zé
Lenir. O Fred, bastante dinâmico, se deslocava rapidamente para conseguir os
melhores ângulos para as imagens que o diretor de imagens (suíte) solicitava.
Um desses diretores de imagens que mais trabalhavam naquele tempo nos programas
em que o Big Brasa participava eram o Aderson Maia (Dedeco) e o Gonzalez, este
principalmente no Studio 2. Ambos muito competentes e gostavam muito de todo o
pessoal do Big Brasa.
O conjunto Big Brasa fazia em média dois números por programa. No
decorrer dessa temporada a propaganda que o conjunto conseguiu foi enorme, por
aparecer diariamente na TV. As músicas quase sempre eram sucessos do momento,
cantadas pelo Edson Girão ou pelo Lucius Maia. Tocávamos “temas” de improviso e
blues, ocasiões em que eu aproveitava
para “tirar” sons de todas as maneiras, na guitarra, fato que contribuiu para
minha relativa projeção como guitarrista-solo em Fortaleza.
Conseguimos alguns fãs-clubes pelo interior do Estado. Quase todos os
dias nós recebíamos muitas cartas de nossas fãs. Umas eram dirigidas ao
Conjunto, outras eram destinadas aos músicos, em particular. Acho que os
campeões no recebimento de cartas eram o Edson Girão e o Lucius Maia.
Ainda hoje mantenho quase todas as cartas
recebidas, muitas delas com fotos e até declarações amorosas, com muito carinho
e afeto. Sentia um prazer enorme ao receber cada cartinha daquelas. Andei
respondendo muitas, pessoalmente. Depois, pela falta de tempo, contratamos uma
amiga que respondia tudo por nós. Para atendê-las fiz uma fotografia minha ao
lado do caminhão de transmissões externas do Canal 2 e distribuí 500
(quinhentas) cópias para as fãs do conjunto no interior do Estado. Hoje em dia
ainda mantenho estas cartas bem guardadas, pois fazem parte de nossa memória.
Ainda sobre fotografias do conjunto, é bom contar que fizemos uma bela
foto um dia, quando uma pessoa estacionou seu automóvel conversível “Lorena”,
em frente ao Canal 2, para resolver algum assunto de seu interesse. Como
estávamos aguardando o horário do Studio 2 entrar “no ar” chamamos rapidamente
o fotógrafo da televisão e fizemos uma pose junto ao tal carro. Foram feitas centenas
de cópias e enviadas para o interior cearense, em anexo às respostas das
correspondências de nossas fãs!
Nos programas nós fazíamos o possível para apresentar novidades, para
quebrar a monotonia e mesmo por serem ao vivo e transmitidos diariamente. Assim
o Big Brasa aproveitava bem o tempo para mostrar os lançamentos no repertório.
Com a guitarra eu abusava dos pedais de efeitos (distorção e
"wah-wah") e não perdia oportunidades de improvisar sobre os temas
musicais que tocávamos. Era uma boa forma de exercitar as técnicas e também de
mostrar para o Ceará inteiro nossas habilidades.
De tão acostumados com as câmeras e com o pessoal do estúdio todo,
contra-regras, operadores de microfone e os próprios câmeras, a gente se
divertia muito. E eu brincava com os operadores que se aproximavam demais de
minha guitarra no intuito de mostrar minha aliança para as fãs do interior.
Algumas vezes fomos entrevistados durante o programa. Um desses dias o
produtor do programa resolveu abrir um espaço para mais uma entrevista com o
Big Brasa a pedido das fãs. O entrevistador foi o Flávio Torres. Dirigiu
perguntas principalmente para o Lucius Maia e algumas para mim sobre nossa
atuação em Fortaleza, perguntou se respondíamos as cartas enviadas por nossas
fãs etc. Foram bons momentos, que contribuíram mais para nossa experiência com
a televisão.
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