Necessário explicar que na atualidade o
sistema é completamente diferente. Há, por exemplo, a terceirização de
equipamentos de som, equipes para a montagem de palcos, de luzes e serviços de
transporte para toda uma equipe musical. Além dos empresários, produtores,
técnicos, enfim, uma estrutura muito grande e completa.
Ocorre que em 1967, quando o Conjunto Big
Brasa iniciava suas atividades, não havia nada disso. Tínhamos que desbravar
todos os caminhos, aprender tudo, o que significava por exemplo que um músico
também poderia exercer as funções de um técnico, motorista e até mesmo montar e
instalar seus equipamentos, acumulando mais a função de bigu. E assim o
fizemos, com muita dedicação e amor à música.
- Os
jipes 1951
No princípio era um “jipe 51” , que cabia todo mundo e
mais o instrumental completo. Não acreditam? É pura verdade. Uma bagunça
danada, partes da bateria espalhadas, amplificadores minúsculos e algumas
guitarras pequeninas e cabos. Mas era só isso, não tinha quase nada e dava para
fazer uma festa!
Mas tenho que falar mais desta inesquecível
fase dos jipes. Marcante também pelos verdadeiros estragos que eles faziam em
nossos bolsos em razão dos inúmeros consertos que frequentemente precisavam. Em
contrapartida nos deram muitas alegrias. Passava na televisão, naquele tempo, o
seriado Ratos do Deserto, sobre episódios de guerra, no qual o jipe modelo 42,
que se assemelhava ao jipe 51, aparecia sempre. Eu fazia de tudo para que o
nosso jipe fosse idêntico a um “Rato do Deserto”... Se você não se liga nesse
papo de pregos em carros e oficinas, pule esta parte. Agora se quiser se
identificar comigo, sofrendo um pouco, siga em frente.
Às vezes eu passava dias inteiros na oficina
do Faúna, que se localizava pertinho do Seminário Seráfico de Messejana, em um
terreno do lado direito de quem vai para Fortaleza pela Avenida Frei Cirilo,
que antigamente era a BR-116. Para manter os jipes em forma tínhamos que marcar
presença constante nessas oficinas. Um dia era defeito na parte elétrica, outro
na carburação ou na caixa de marchas ou embreagem. Mais raramente, por sorte
nossa, um bloco de motor rachado ou empenado, com uma junta do tampão queimada.
Essas coisinhas simples de resolver... Como eu tinha pouco dinheiro para pagar
mecânicos o jeito foi ir aprendendo a consertar de tudo um pouco, inclusive
pintura, chegando ao ponto de efetuar inúmeros consertos em casa, com recursos
e ferramentas próprios.
Certa vez um desses jipes ficou quase um mês
na oficina, para remendar a lataria e fazer uma pintura nova. Paralelamente, o
Raimundo capoteiro (um amigo nosso, muito conhecido em Messejana) fazia uma
capota conversível para transformá-lo em clone de um Rato do Deserto, como
aqueles jipes usados pelos americanos que a gente via nos filmes de guerra. Foi
um verdadeiro sufoco. E haja paciência para que o serviço fosse terminado. Na
verdade a oficina não podia se ocupar o tempo integral com nosso jipe e ficava
parando de vez em quando para receber pequenos consertos. Mas tudo valeu a
pena. Quando o jipe saiu parecia novinho em folha.
Coloquei a capota
nova e foi um sucesso total. Por onde passava ou estacionava o jipe era muito
observado. Tão observado que em uma noite, enquanto tocávamos uma festa de 15
anos na Aldeota, tivemos uma bela surpresa ao sair. Tinham furtado o nosso jipe
“Rato do Deserto”. Tristeza, decepção, queixa na polícia e nada. Veio aparecer
perto do Círculo Militar, três dias após a ocorrência. Os ladrões, depois de
terem usado e abusado do jipe, amassaram seu capota, rasgaram o estofamento dos
bancos, capota, tudo. Mas com todos os problemas o fato que os jipes 51 eram muito resistentes,
ajudaram o Big Brasa em seu início e nos trouxeram muita sorte em nosso
aprendizado no volante!
- A Rural
e seus motoristas
No início alugávamos a Rural do Colares, um
policial que fazia serviços como motorista em suas folgas. O Colares chegou a
fazer algumas viagens com o Big Brasa. Tipo de policial alto e forte, cabelos
grisalhos, sempre brincalhão e muito tranquilo. Em certa ocasião, nós achamos o
máximo Quando ele desceu a Serra da Ibiapaba, na maior calma, assobiando e
dirigindo apenas com uma das mãos. Hoje em dia temos a consciência de que isso
não é vantagem nenhuma, muito pelo contrário, mas os tempos eram outros.
Depois conhecemos o Seu Fernando, motorista
de praça que nos prestou muitos serviços com a sua rural. O Fernando Galba,
como o apelidou o Adalberto, cuidava muito bem da manutenção de sua rural e era
super responsável com os compromissos do Big Brasa.
- A Rural
do Big Brasa
Mais tarde, com a aquisição da nossa própria
rural, chegou também o reboque que o Mestre Alberto mandou fazer para ajudar a levar
o instrumental. Dava um trabalho muito grande para dirigir a rural com aquele
reboque enorme. Para guardá-la na garagem, com o reboque engatado nem se fala,
era dureza... Mais uma vez fomos treinados intensivamente ao volante e
adquirimos mais prática de estrada, como se diz. Toda essa experiência foi
importantíssima para mim. Aquela Rural,
com bagageiro maior e na parte de cima, nos serviu muito. Tinha um bom motor e
mecânica razoável. Sua deficiência era na lataria, que vez por outra estava
enferrujando. Como a nossa rural tinha algum tempo de uso, possuía folga na
direção, o que sem dúvida se constituiu em um treinamento forçado para todos
aqueles que a dirigiram. Às vezes ela puxava muito para os lados, pela folga
existente no sistema de direção. A situação ficava complicada, pois tínhamos
que corrigir o volante para lá e para cá. Iniciava-se assim um vai-e-vem desgraçado, um
verdadeiro perigo...
- A Kombi
do Big Brasa
O tempo
foi passando e surgiu a oportunidade da aquisição de uma Kombi, o transporte
ideal para o grupo naquele tempo. A nossa era uma modelo 1959, azul e branca,
com o nome Big Brasa pintado nas laterais e na traseira. Esta Kombi fez
história! Era muito conhecida em Fortaleza.
Temos gratas recordações dessa Kombi, a qual
por muito tempo serviu ao Big Brasa. Um dia, na volta de um passeio na Prainha,
essa Kombi bateu o motor. Como diz o ditado há males que vem para bem e assim
foi. No reparo desse motor foi transformada por mecânicos da Ceará Motor em uma
equivalente ao ano de 1968, praticamente nova, completamente turbinada. Depois
disso nunca nos trouxe problemas maiores e fez inúmeras viagens pelo interior
cearense.
Com o objetivo de impressionar e chamar mais
atenção eu mandei instalar na Kombi uma descarga tipo Kadron, muito barulhenta.
E usava um truque para espantar os pedestres: desligava a chave com o motor em
funcionamento e uma marcha de força (uma segunda marcha, por exemplo) engrenada
até que a velocidade fosse reduzindo e a compressão do motor fosse aumentando, gradativamente.
Aí então ligava a chave de ignição novamente, o que ocasionava uma explosão na
descarga, que assustava quem estivesse passando por perto na hora. Uma maldade,
reconheço... Mas, coisas da juventude.
- A
Chevrolet de duas cabines
“Massa” poderia ser o termo usado para
qualificar aquela camionete tipo Veraneio. A Chevrolet, como a chamávamos, foi
de grande utilidade para o Conjunto Big Brasa. Era verde, com duas cabines e
seis faróis (os faróis de milha eu acrescentei). Para completar aquele carro eu
mesmo nela instalei um som, com amplificador e alto-falantes bem distribuídos
pelas duas cabines. Para os padrões daquele período era o máximo. Íamos para as
festas ouvindo as músicas anteriormente ensaiadas ou então aquelas que a gente
ainda tinha que aprender para colocá-las no repertório do Big Brasa. Assim a
gente unia o útil ao agradável. Em viagens ela aguentou firme várias vezes,
inclusive no dia em que fez duas viagens de Fortaleza a Mossoró, no mesmo dia,
transportando equipamentos do Conjunto e nosso próprio grupo para o baile de
formatura do Carló, em Mossoró.
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