terça-feira, 22 de agosto de 2017

IMAGENS PERDIDAS DE UM FESTIVAL DE ROCK


 Em 1971, o Conjunto Big Brasa participou de um festival de rock, realizado no auditório da Universidade Federal do Ceará. Preparamos algumas músicas, escolhidas cuidadosamente de modo a causar o maior impacto possível, pois sabíamos que o evento seria muito bem divulgado e que boa parte de nosso público, sem dúvida, tomaria conhecimento da nossa atuação. Dentre as músicas, no melhor estilo de Jimi Hendrix, um tema especialmente criado por nós, cuja harmonia possibilitava improvisações para a guitarra-solo, do jeito que eu mais gostava. Além de estar naquele tempo com uma guitarra excelente, contava ainda com a ajuda de uma “distorção” e de um pedal tipo “wah-wah”, ambos de excelente qualidade.


Para esse festival eu estava muito bem preparado tecnicamente, pois estudava horas e horas a fio, exercitando escalas e mais escalas, para aumentar a agilidade em minha guitarra branca, tipo “Fender”, por mim reformada e que possuía uma sonoridade muito boa, do qual falei anteriormente. Passei a semana inteira dedicando todo o meu tempo disponível, revendo os arranjos, com o pessoal do conjunto, no sentido de que o Big Brasa fizesse uma apresentação marcante.
E chegou o momento de mostrarmos nosso trabalho. O ambiente no auditório da UFC estava amplamente favorável. Mesas com canhões de luzes, um sistema de som razoável, amplificadores de boa potência e qualidade, e muita gente para ver o show.
O Big Brasa foi o último grupo a se apresentar, dos quatro conjuntos musicais participantes. Os organizadores do festival fizeram essa escolha de propósito, creio eu, pois conheciam nosso “potencial de fogo”, naquele momento, para fechar com chave de ouro aquela apresentação. Estávamos nesse período, realmente, com um “time que jogava muito bem”, todo mundo sabia o que fazer, portanto, tudo muito ensaiado e afinado. Ao chegar a nossa vez, subimos ao palco, ligamos nossos equipamentos e “sentamos o porrete no som, sem pena”, como se diz na gíria. No primeiro tema apresentado, os aplausos e a vibração da galera foram enormes, o que aumentou de forma significativa nosso entusiasmo.
Antes da segunda música chegou uma equipe de reportagem do “Canal 10”, a televisão Verdes Mares de Fortaleza para fazer filmagens e documentar aquele festival. Naquele tempo, as televisões ainda não tinham câmeras gravadoras de videoteipe e os eventos eram filmados. As imagens, portanto, só eram exibidas na televisão no dia seguinte, após a edição e o processamento dos filmes da véspera.
Tivemos muita sorte até nisso, porque, durante a nossa segunda música, um tema com bastantes improvisações de guitarra, praticamente foi filmada integralmente, com detalhes para o nosso baterista e principalmente para os solos de guitarra. Naquele dia confesso que estava realmente inspirado. Via aquelas luzes e câmeras em minha frente, as quais, associadas aos efeitos existentes e ao vibrante som produzido por nossos instrumentos, faziam que eu me sentisse em outra dimensão, verdadeiramente. Torna-se difícil descrever esse tipo de sensação através da escrita. Só pode avaliar quem passou por uma situação idêntica, a oportunidade de tocar um rock pesado, de improvisar, de cantar ou de estar entre amplificadores muito potentes. É por aí...

E valeu a pena! Esperamos com toda ansiedade para assistir o jornal da TV Verdes Mares do dia seguinte. O apresentador, após ter noticiado o festival, em matéria bem produzida, apresentou um longo trecho do filme em que o Big Brasa aparecia. Todo mundo lá em casa vibrou junto comigo. Na rua e nos clubes, nas semanas seguintes, a repercussão foi extraordinária. Meses depois tentei conseguir uma cópia desse filme, naquela emissora, mas não obtive sucesso. Fiz o possível com o setor de filmagens para localizar aquele pequeno filme, mas o pessoal alegava não mais encontrá-lo. Hoje, essas imagens teriam um valor inestimável para mim, sem dúvida.   

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