terça-feira, 22 de agosto de 2017

OS FESTIVAIS NORDESTINOS DA MÚSICA POPULAR


Em Recife, Pernambuco, o Conjunto Big Brasa participou duas vezes das finais dos Festivais Nordestinos da Música Popular, televisionados para todo o Norte e Nordeste. As transmissões pela EMBRATEL naquela época consistiam novidade e motivo de repercussão na imprensa, visto que apenas eventos de grande vulto mereciam tal destaque.

Não existiam as redes nacionais de televisão, como atualmente. Eventos transmitidos assim eram esporádicos. Os anúncios na televisão diziam: “Festival Nordestino da Música Popular com transmissão ao vivo para todo o Norte e Nordeste”.
  


Big Brasa e Ednardo em Recife - Revista “O Cruzeiro”

Sobre o primeiro Festival, realizado em dezembro de 1971, trecho de uma nota publicada por um jornal cearense: “Está seguindo na próxima sexta-feira para a capital pernambucana a equipe de compositores e intérpretes que apresentarão as composições selecionadas em Fortaleza para concorrer ao II Festival da Música Nordestina. Entre a turma de músicos cearenses se destaca a participação do Conjunto Big Brasa, que defenderá as músicas Beira-Mar e Rua do Ouro, classificadas em primeiro e quarto lugares respectivamente”.

Pouco antes da final do primeiro Festival Nordestino da Música Popular que o Conjunto Big Brasa participou em Recife, defendendo músicas do Ednardo, adquirimos em São Paulo dois pedais do tipo wah-wah de marca nova. A ideia era usar um para a guitarra-solo e outro para o órgão. A aquisição desses equipamentos foi um verdadeiro show de competência e de logística do tio João. Tudo muito rápido, a aquisição, a remessa e enfim a chegada dos pedais em tempo recorde. Fomos receber a encomenda no Aeroporto, diretamente no departamento de bagagens da VARIG, quase às 23 horas. Deu tudo certo, os pedais foram incorporados ao nosso instrumental e utilizados de acordo com o planejamento.

- Transmissão ao vivo para o Norte e Nordeste

A respeito desse Festival, que foi televisionado para todo o Norte e Nordeste (na época uma transmissão por demais comentada), lembro de alguns acontecimentos interessantes. Um deles durante o ensaio geral, no Ginásio Coberto localizado no bairro Embiribeira (idêntico ao Paulo Sarasate, de Fortaleza, porém mais bem acabado, pois tinha alojamentos, restaurante e uma área externa bem maior).

No ensaio do Conjunto Big Brasa com a orquestra de Recife, acompanhando a música Beira-Mar, do Ednardo, o maestro ficou entusiasmado com a música e o arranjo. Também entre os músicos da orquestra a opinião unânime era a de que aquela música tiraria o primeiro lugar. Mas para ganhar em Recife não tinha jeito! Ficamos apenas com um terceiro lugar e uma menção honrosa. Valeu, entretanto, a extensa reportagem sobre o Festival publicada na extinta Revista O Cruzeiro (a qual está no acervo do Big Brasa), transcrevendo com destaque e na íntegra a letra de Beira-Mar e publicando a foto do Ednardo, acompanhado pelo Conjunto Big Brasa e pela orquestra de Recife.

- A torcida e as vaias para os concorrentes

A torcida pernambucana nesses festivais se assemelhava ao que ocorria com as rivalidades por conta do futebol, sendo totalmente contrária às delegações da Bahia e do Ceará. Um segundo fato interessante deste festival, que eu nunca esquecerei, foi que durante o intervalo da TV, quando nos preparávamos para entrar no ar com o Ednardo, o público do Ginásio, que estava completamente lotado, começou a vaiar intensamente o Ednardo e o conjunto. Estávamos todos muito nervosos, evidentemente. E tome vaia, mesmo porque eles vaiavam tudo que fosse do Ceará. Um cara da plateia tocava uma buzina que emitia um som engraçado e depois vinha a vaia. Mas, por felicidade e presença de espírito, talvez, peguei o tom daquela buzina na guitarra e com o wah-wah, após o cara tocá-la, reproduzi o som no palco com a guitarra a plena altura! Depois sucessivos toques e de minha respostas com a guitarra o pessoal gostou e tudo virou brincadeira. Alguns até aplaudiram e a vaia rapidamente cessou. Foi ótimo para todos nós. Por último faço questão de registrar a verdadeira e inadmissível falha do maestro da orquestra pernambucana, que na hora de começar a apresentação do Ednardo, veio me perguntar o andamento da música para fazer a introdução, com a orquestra. Eu expliquei para ele, cantei as primeiras notas da melodia, gesticulando com as mãos o andamento correto. Mas qual foi nossa surpresa, quando esse maestro iniciou Beira-Mar com um andamento completamente acelerado! E nosso baterista estava com a orquestra. Foi uma luta nos segundos iniciais para tentar fazer o andamento retroceder ao original, uma verdadeira briga entre a orquestra e o Conjunto. De propósito ou não o fato é que isso certamente contribuiu para atrapalhar o Ednardo, que ficou mais branco do que pó de giz durante toda a música. Esse pequeno deslize do maestro pernambucano prejudicou de forma significativa nosso desempenho naquela noite.


Nas folgas, depois dos compromissos com ensaios, saímos em grupo para conhecer os pontos principais de Recife. Com quase tudo financiado pela TV Ceará, ou Diários e Emissores Associados do Ceará, da Rede Tupi. Conhecemos duas adegas muito bonitas e aconchegantes, que apresentavam shows noturnos. A Adega do Bocage e a da Mouraria. Estivemos também na praia da Boa Viagem e em alguns pontos turísticos da cidade. 

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