A participação do Big Brasa na televisão
O
Conjunto Big Brasa teve uma presença marcante e freqüente na televisão
cearense, por quase sete anos, fator que influiu de forma significativa
na divulgação do grupo em Fortaleza e de modo especial no interior
cearense.
O
ingresso do Conjunto na televisão deu-se por ocasião de um Festival
Nordestino da Música Popular, quando o Big Brasa acompanhava o Ednardo,
na música “Beira-Mar”, no Náutico Atlético Cearense. Nessa ocasião o
conjunto estava muito bem ensaiado e produzia arranjos musicais
belíssimos nas músicas que executava. Na final desse festival a música
do Ednardo tirou o primeiro lugar, fato amplamente noticiado através da
imprensa local.
Nessa
apresentação o grupo foi observado pelo radialista e apresentador de
TV, Augusto Borges, que comandava naquela época o programa “Show do
Mercantil”, levado ao ar aos sábados pela TV CEARÁ, Canal 2, antiga
emissora de Rede Tupi de Televisão (cujo logotipo era um indiozinho).
Esse programa era patrocinado pelo Mercantil São José. Pois bem, o
Augusto ficou empolgado com o Conjunto e naquela oportunidade nos
convidou para participar de seu programa. Assim foi o início de nosso
contato com a televisão.
O PROGRAMA “SHOW DO MERCANTIL”
O
Show do Mercantil, levado ao ar aos sábados, pela extinta TV Ceará,
Canal 2, da Rede Tupi de Televisão, quase sempre apresentava muitos
quadros interessantes e de bom conteúdo. Durante muito tempo do programa
o “layout” do palco do Show do Mercantil tinha como pano de fundo o Big
Brasa. Assim, qualquer que fosse a atração, estávamos lá aparecendo na
TV, o que contribuiu de forma significativa para nossa maior divulgação
no interior do Estado.
No
decorrer dos programas o Augusto Borges freqüentemente se dirigia ao
Big Brasa, fazendo um comentário ou simplesmente brincando com algum de
nossos componentes. Desse modo nossa imagem se propagou rapidamente e
nos tornamos muito conhecidos pelo público em geral.
- Como era o Show do Mercantil
Durante
o período letivo o quadro Colégio contra Colégio encarregava-se de
animar o programa suficientemente, pelas disputas entre os estudantes.
Tínhamos que nos policiar no que diz respeito à postura no palco, pois o
tempo de duração era de duas horas e meia e cansava ficar todo esse
tempo em pé. Nos
intervalos a gente saía “de fininho” para a ante-sala, para bater papo e
descansar um pouco. Para quem fumava era uma boa, pois dava tempo para
acender um cigarrinho de leve.
- Seleção de calouros - uma “boca quente”
A
participação musical do Big Brasa no Show do Mercantil iniciava às
noites das quartas-feiras, quando eu, na qualidade de produtor musical,
fazia uma seleção de calouros para se apresentar no programa seguinte.
Tudo funcionava assim: no auditório da TV Ceará os candidatos chegavam
cedo. Eu iniciava o ensaio por volta das 20:00h. Ao piano, no palco, ia
chamando os calouros por ordem de chegada e, um a um, perguntava-lhe que
música que gostaria de ensaiar. Depois do acompanhamento de cada
candidato, fazia algumas anotações para escolher os melhores ao final.
Tive que enfrentar vários problemas, de gente desafinada e sem ritmo,
mas que pensa que sabe cantar. Em cada ensaio eu ouvia em média trinta
candidatos para escolher apenas quatro, estes que ensaiariam na
sexta-feira com todo o conjunto. Às vezes a escolha ficava difícil e eu tinha que escalar os menos ruins, de qualquer jeito...
Num
desses ensaios, ao anunciar a relação dos quatro calouros para
sexta-feira, um cara, alto e desengonçado, veio me questionar sobre o
porquê de não ter sido escolhido. Gentilmente expliquei a ele que
deveria treinar mais, ouvir mais a música escolhida, enfim, todas as
explicações necessárias ao caso. Mas ele, inconformado, cada vez mais ia
se exaltando. E eu também ia perdendo a paciência, que nunca foi grande
mesmo. Ao final, virei para o “candidato a calouro” e tive que lhe
dizer a verdade, nua e crua:
-
Meu amigo, sem ritmo, cantando desafinado e errando a letra da música,
não dá. É por isso que você não tem condições para se apresentar. E
sendo assim, enquanto eu estiver aqui, você não cantará no programa.
Foi o suficiente para que eu recebesse um desaforo e uma ameaça de tiro, que felizmente ficou só na ameaça.
Ao contar o fato para o Augusto Borges, mencionando a ameaça recebida, ele me perguntou, com a maior calma:
- Beiró, o cara disse mesmo que iria atirar em você?
- Sim, respondi preocupado.
- Então pode ficar sossegado que ele não vai fazer nada, tranqüilizou-me.
- O ensaio geral do Show do Mercantil
Realizado
às sextas-feiras, quando o “script”, ou roteiro do programa estava
pronto. Quase sempre enfadonho, principalmente quando a produção tinha
algum novo elemento querendo “aparecer”. No que se refere à parte
musical o conjunto Big Brasa ensaiava com os calouros todas as músicas,
com introduções, até que ficassem “no ponto”, nem que fosse no ponto de
errar no sábado, como alguns faziam, face ao nervosismo ... Depois desse
ensaio geral as entradas das músicas eram repassadas de forma muito
rápida, só para relembrar, no sábado, antes do início do programa, com o
Big Brasa no palco do programa, a postos.
- Artistas que o Big Brasa acompanhou
Vários
foram os artistas que o Big Brasa acompanhou, muitos de projeção
nacional. Foram seis anos e meio, com atrações todos os sábados e em
muitos desses programas cantores de fora, quase sempre vindos do sul do
País.
A
seguir estão listados alguns deles, em ordem alfabética: Adriano
(Francisco de Assis), Carlos Imperial, Belchior, Cauby Peixoto, Cláudia
Barroso, Demétrius, Dóris Monteiro, Ednardo, Jorge Melo, Luís Vieira,
Mardônio, Márcio Greick, Pablo Sebastian, Rodger, Sandra, Wanderley
Cardoso, dentre outros.
- Nosso encontro com o “Rei do Baião”
Em
uma das tardes de sábado, o Big Brasa estava cumprindo função no Show
do Mercantil. Com o auditório praticamente lotado, o programa naquele
dia apresentaria muitas atrações. Não seria monótono, como em outras
vezes.
A
produção musical, de minha responsabilidade, tinha preparado alguns
novos cantores da terra, saídos da seleção de calouros. Além disso
apresentaria o próprio quadro de calouros e alguns números do Big Brasa,
músicas de sucesso recentemente ensaiadas. Nessa época, havia um quadro
chamado “Fora de Série”, no qual se apresentavam mágicos, malabaristas,
contorcionistas, enfim, todas as pessoas que faziam alguma coisa
diferente, motivo de atração. Esse quadro permaneceu no ar por muito
tempo e tivemos a oportunidade de presenciar várias cenas ou atrações
super interessantes. Para aquele dia, a produção do programa, através de
diversas “chamadas” - pequenos comerciais do programa exibidos durante a
programação durante a semana - tinha anunciado uma grande surpresa para
o público.
No
início do programa, o Augusto Borges adiantou a atração, que seria o
famoso compositor e músico Luiz Gonzaga, nada menos do que o “Rei do
Baião”, como ficou conhecido internacionalmente. Durante os intervalos,
de pequena duração, a gente saía um pouco do nosso palco, que ficava na
lateral do cenário principal, para conversar com o pessoal da produção e
outros colegas, na ante-sala do programa, bastante movimentada. Nesse
dia, estávamos também querendo ver, de perto, o “Rei do Baião”. Em uma
dessas saídas, nos deparamos com o Luiz Gonzaga, na ante-sala, sentado
com sua sanfona, calmamente aguardando a vez de sua apresentação. O meu
pai, muito entusiasmado com aquele encontro, visto ser um dos fãs
daquele artista, disse para o pessoal do conjunto, na frente do Luiz
Gonzaga, em tom de brincadeira:
- Vocês deveriam se perfilar e fazer continência, em homenagem a “esta verdadeira fera”, referindo-se ao Luiz Gonzaga.
Ele permaneceu sentado e, sorrindo bastante para todos nós, respondeu:
- Deixe os meninos, que eles estão “na deles”...
E
nós todos cumprimentamos o famoso Rei do Baião, com muita satisfação
por mais aquele encontro com gente famosa. Naquele momento, o Luiz
Gonzaga deixou a impressão, para mim, de ser um artista extremamente
simples e simpático, além naturalmente de tudo aquilo que produziu em
seu inestimável legado musical.
- Os operadores de câmeras
Os
que trabalharam durante mais tempo conosco foram o Fred e o William.
Eles tinham que ter muita agilidade nas operações com seus equipamentos,
particularmente no início, com as câmeras RCA, americanas, em
preto e branco. Elas não possuíam o recurso de aproximação, o “zoom”,
tão comum hoje em dia em qualquer filmadora. Na frente de cada câmera
existia o que eles chamavam de “torre de lentes”, ou seja, um conjunto
de quatro lentes que eles tinham que alternar de acordo com a distância
dos objetos em foco. Havia
o perigo, por exemplo, de um câmera-man, inadvertidamente, mudar de
lente quando a sua câmera estivesse “no ar” - a chamada falha técnica.
De
vez em quando eu gostava de brincar com as câmeras e pedia para que os
operadores me deixassem trabalhar um pouquinho com elas durante os
programas. Isso acontecia mais com a câmera 3, que me parece era a que
mais folgava.
- A equipe de produção do Show do Mercantil
O
programa foi produzido por muito tempo pelo Tertuliano Siqueira, filho
do falecido guitarrista Paulo de Tarso, que hoje trabalha para o grupo
do jornal “O Povo”, auxiliado pelo Oliveira Martins. O “Terto”, como
alguns o chamavam, tinha boas idéias. Produzir e dirigir um programa de
televisão semanal, em Fortaleza, com duas horas de duração, não é fácil.
O cara tem que “se virar” para arranjar matérias e atrações.
Entrevistas diversas, artistas de fora do Estado e curiosidades, como o
quadro “Fora de Série” faziam parte do show.
O
Big Brasa quase sempre apresentava um número na abertura e mantinha
algumas músicas para preencher alguma lacuna. Acompanhava a apresentação
dos calouros e praticamente todos os cantores que vinham do Sul do País
para temporadas em Fortaleza. Adquirimos
muita experiência musical por causa disso. Tínhamos mesmo que saber, ou
seja, conhecer bem as harmonias, os acompanhamentos de tudo que é
música ou então “ter ouvido” para pegar o acompanhamento na hora do
ensaio, rapidamente. E depois, memorizar tudo aquilo para não falhar
durante o programa, sempre realizado “ao vivo”.
- A distribuição das sacolas e brindes
Um
dos momentos que mais agradava ao público presente no auditório, que
ficava bastante agitado, era quando o Augusto Borges mandava distribuir
as sacolas do Mercantil São José, sempre recheadas com diversos produtos
de qualidade. O Mercantil encaminhava para a TV Ceará uma porção de
mantimentos, que ficavam armazenados em um depósito para serem
acondicionados em sacolas e distribuídos ao público no decorrer dos
programas.
Todos
os participantes do Big Brasa recebiam uma sacola, às vezes até mais de
uma. O motorista, Fernando “Galba”, bigus, auxiliares, pessoal da
produção do programa, todo mundo se fazia direitinho.
- As paqueras durante o programa
Sempre
havia muita movimentação no Show do Mercantil, de modo especial quando o
período escolar tinha início e o quadro “Colégio contra Colégio”
também. Auditório lotado, muita gente mesmo. Nos bastidores do mesmo
jeito. Quem conhecia as dependências da TV Ceará, seus corredores
amplos, sabia como chegar ao auditório do programa “por dentro”. E aí
ficava sempre meio tumultuado, com o pessoal querendo ver os artistas,
batendo papo, desejando receber uma sacola “por fora”, o que não era
permitido. Na realidade, sempre estive muito
ocupado - e preocupado - durante o programa para que tanto a minha
participação como produtor musical e a do Big Brasa fossem
satisfatórias. E nesse clima havia paqueras de todo o lado, além de
sempre existir um grande batalhão de meninas e moças que desejavam
“entrar” para a TV de qualquer modo, como cantora ou garota-propaganda.
- A repercussão do “Show do Mercantil” no interior do Estado
Se
em Fortaleza a televisão divulgava o Big Brasa suficientemente, no
interior a penetração do Big Brasa era intensa, a divulgação era enorme.
No início apenas a TV Ceará existia. E por isso mesmo durante muitos
anos sua imagem foi única no interior do Estado, em se tratando de grupos musicais.
Imaginem
só, nos anos de 1970, um conjunto que aparecia todos os sábados num
programa de audiência total no interior, visto que a EMBRATEL ainda não
possibilitava transmissões do Sul do país. Quando o Big Brasa chegava a
qualquer cidade interiorana, obtinha enorme repercussão. Em muitos
municípios fomos recebidos com faixas de boas-vindas na frente dos
clubes! A rapaziada local ficava com um ciúme danado por que suas
paqueras e namoradas se voltavam para nós, tudo muito natural, por ser
novidade, essas coisas de tietes.
Foi
nesse esquema que praticamente se desenrolou a bem sucedida etapa
televisiva do Big Brasa, cujos episódios serão motivo de diversos
enfoques nesses registros.
O PROGRAMA “ESTÚDIO 2”
Programa
de muita audiência, no qual o Big Brasa se apresentou por quase três
anos. Levado ao ar diariamente pela TV Ceará, cada programa abordava,
através de entrevistas, temas diversos, dirigidos principalmente às
mulheres. Diversos artistas nacionais, cantores, pessoal de teatro e
outras personalidades de destaque participaram do “Estúdio 2”.
Dentre
os que eu lembro a Dercy Gonçalves, com duas brincadeiras, mas com bem
menos palavrões, tendo em vista a censura existente no período. O famoso
músico Zé Menezes também foi acompanhado pelo Big Brasa. No dia em que
esteve no programa, ele usou minha guitarra, para executar alguns solos e
improvisos.
Às
vezes a contra-regra produzia um cenário um pouquinho melhor do que as
simples cortinas e tapadeiras, que eram divisórias de compensado para
encobrir um ou outro defeito do cenário. Colocavam mesas e cadeiras como
num bar, com platéia, e o ambiente ficava mais alegre e descontraído. A
luta do pessoal do estúdio era sempre no sentido de manter o silêncio
daqueles que não estavam em cena, para não atrapalhar o programa ,
realizado “ao vivo”.
Durante praticamente toda a semana deixávamos o instrumental no amplo estúdio da TV Ceará onde se realizava o “Estúdio 2”.
Esse material era levado para casa apenas para os ensaios do conjunto.
Para nós, músicos e o restante do pessoal que ali trabalhava o horário
não era fácil. De Messejana eu saía em nosso jipe 51, com o Adalberto,
mais ou menos às 11:15h., de segunda a sexta-feira.
Nós costumávamos dividir as despesas com a gasolina. Nunca deixamos de cumprir esse horário, certinho.
O som do “Estúdio 2”
sempre foi melhor que o do Show do Mercantil. Deve-se isso, com
certeza, aos operadores de áudio e de microfones, além da própria
acústica do ambiente. No estúdio a distribuição se fazia com uma
“girafa”, que para quem não sabia é um suporte bem grande, na forma de
um guindaste, que podia movimentar o microfone por cima de todo mundo,
captando bom o som de cada cena. Havia também os microfones de lapela e
os “varacionais”, explico: como a TV não possuía microfones direcionais,
aqueles que captam bem o som em uma determinada direção, o pessoal da
equipe técnica adaptava um microfone comum, forrado com esponjas, a uma
vara ou haste de metal ou madeira. Por causa dessa improvisação, ficaram
conhecidos por nós como os microfones “varacionais”.
Os
câmeras procuravam “detalhes” em todos os lugares que podiam para ser
mais criativos. Lembro-me muito bem do William (o “Irmão”, já falecido),
do Fred (atualmente na TV Educativa) e o Zé Lenir, o mais calmo e de
menos iniciativa. O “Irmão” e o Fred se destacavam como bons
profissionais. Na verdade eles eram muito bons mesmo. O Fred, bastante
dinâmico, se deslocava rapidamente para conseguir os melhores ângulos
para as imagens que o suíte (diretor de imagens) solicitava. Por falar
em “suíte”, os dois diretores de imagens que mais trabalhavam naquele
tempo nos programas em que o Big Brasa participava eram o Dedeco
(Aderson Maia) e o Gonzalez, este principalmente no Estúdio 2. Bem, eles
nos colocavam “no ar” diversas vezes sem estarmos tocando, em qualquer
posição que estivéssemos, de preferência quando a gente não notava que
seria focalizado. Numa dessas vezes que os câmeras ficavam procurando o
que mostrar pelo estúdio o Fred ficou me focalizando um tempão e eu, que
estava prestando atenção ao que estava sendo exibido no programa, não
notei. Deu sorte porque minha imagem
não tinha ido ainda ao ar. Quando notei o Fred tentando me enquadrar,
num ato impulsivo e de pura brincadeira, “dei o dedo” para a câmera.
Resultado: depois do programa o Gonzalez desceu da “Engenharia”, como
chamávamos, e me deu uma boa chamada, dizendo ele que “quase” apertou no
botão que levaria aquele gesto para todos os cearenses.
O
conjunto fazia em média dois números por programa. No decorrer dessa
temporada a propaganda que o conjunto conseguiu foi enorme, por aparecer
diariamente na TV. As músicas quase sempre eram sucessos do momento,
cantadas pelo Edson ou pelo Lucius. Tocávamos “temas” de improviso e
blues, ocasiões em que eu aproveitava para “tirar” sons de todas as
maneiras que sabia, na guitarra, fato que contribuiu para minha relativa
projeção como guitarrista-solo em Fortaleza.
Conseguimos
um fã-clube espalhado pelo interior do Estado. Todos os dias recebíamos
cartas e mais cartas. Umas eram dirigidas ao Conjunto Big Brasa, de um
modo geral. Outras eram destinadas aos músicos, em particular. Acho que os campeões de correspondência eram o Edson Girão e o Lucius.
Ainda
hoje mantenho quase todas as cartas que recebi, muitas delas com fotos e
até declarações amorosas, com muito carinho e afeto. Sentia um prazer
enorme ao receber cada cartinha daquelas. Andei respondendo muitas,
pessoalmente. Depois, pela falta de tempo, contratamos uma amiga que
respondia tudo por nós. Tive que
fazer uma fotografia minha ao lado do caminhão de transmissões externas
do Canal 2 e distribuí 500 (quinhentas) cópias para o fã-clube do
conjunto no interior do Estado. Hoje em dia ainda mantenho estas cartas
bem guardadas, pois fazem parte de nossa memória.
Ainda
sobre fotografias do conjunto, é bom contar que fizemos uma “mutreta”
um dia, quando um cara estacionou com um automóvel conversível “Lorena”,
em frente ao Canal 2, para resolver algum assunto de seu interesse.
Como estávamos aguardando o horário do Estúdio 2 entrar “no ar” chamamos
rapidamente o fotógrafo da televisão e fizemos uma pose junto ao tal
carro. Foram feitas centenas de fotos e enviadas também para o interior.
Isso certamente contribuiu para nossa imagem de conjunto “rico”, com o
carro dos outros ...
Tínhamos
que inventar novidades. Eu às vezes até abusava dos pedais (distorção e
"wah-wah") e brincava com os câmeras que se aproximavam demais de minha
guitarra no intuito de mostrar minha aliança para as fãs do interior.
De
tão acostumados com as câmeras e com o pessoal do estúdio todo,
contra-regras, operadores de microfone, os próprios câmeras-man, a gente
se divertia muito. Eu não perdia nenhuma oportunidade de improvisar
sobre os temas das músicas que tocávamos. Era uma boa forma de exercitar
e também de mostrar para o Ceará inteiro nossas habilidades.
No
entanto um dia o produtor do programa resolveu abrir mais um espaço
para uma entrevista com o conjunto, a pedido das fãs. O entrevistador
foi o Flávio Torres. Dirigiu perguntas principalmente para o Lucius e
algumas para mim, sobre nossa atuação em Fortaleza, quis saber se
respondíamos as cartas do pessoal, enfim um bocado de coisas. Fiquei,
como sempre, um pouco nervoso ao ser entrevistado. Senti que o sangue me
fugiu e que deveria estar muito pálido. Mas felizmente a TV ainda era
em preto e branco... Na foto que temos desta entrevista aparece a atriz
de novelas e apresentadora Carla Peixoto, da TV Ceará.
Toda
a vez que eu tinha que falar em público ficava um pouco nervoso. Podia
cantar, tocar, enfim, fazer tudo, que me sentia bem, completamente à
vontade. Mas falar em público, principalmente na televisão, que você
fala para uma platéia e também para uma câmera, sempre foi um problema
para mim. Uma vez, por exemplo, ao gravar uma aula em vídeo para a TV
Educativa, no qual eu aparecia tocando uma música ao piano e em seguida
teria que fazer um comentário musical e falar um pouco sobre o Paulinho
da Viola, esqueci o texto várias vezes.
OS FESTIVAIS NORDESTINOS DA MÚSICA POPULAR
Pouco
antes da final de um dos Festivais Nordestinos da Música Popular que o
Big Brasa participou em Recife, defendendo músicas do Ednardo,
adquirimos, por intermédio do tio João, em São Paulo,
dois “wah-wah” de marca nova. A idéia era usar um para a guitarra-solo e
outro para o órgão. A aquisição desses equipamentos foi um verdadeiro
show de competência. Tudo muito rápido, o pedido ao tio João, a
aquisição, a remessa e enfim a chegada dos pedais em tempo recorde.
Fomos receber a encomenda no departamento de bagagens da VARIG, quase às
11 horas da noite. Deu tudo certo, os pedais foram incorporados a nosso
instrumental e utilizados de acordo com o planejamento. Sobre esse
evento, realizado em dezembro de 1971, trecho de uma nota publicada por
um jornal cearense:
-
“Está seguindo na próxima sexta-feira para a capital pernambucana a
equipe de compositores e intérpretes que apresentarão as composições
selecionadas em Fortaleza para concorrer ao II Festival da Música
Nordestina. Entre a turma de músicos cearenses destaca-se a participação
do Conjunto Big Brasa, que defenderá as músicas Beira-Mar e Rua do
Ouro, classificadas em primeiro e quarto lugares respectivamente”.
A
respeito desse Festival, que foi televisionado para todo o Norte e
Nordeste (na época uma transmissão por demais comentada), lembro de
alguns acontecimentos interessantes. Um deles ocorreu durante o ensaio
geral, no Ginásio Coberto localizado no bairro Embiribeira (idêntico ao
Paulo Sarasate, porém mais bem acabado, com alojamentos e restaurante, e
com uma área externa maior). Pois bem, o Big Brasa ao ensaiar com a
orquestra de Recife, acompanhando Beira-Mar, do Ednardo, o maestro ficou
entusiasmado com a música e o arranjo. Também entre os músicos da
orquestra a opinião unânime foi a de que aquela música tiraria o
primeiro lugar. Mas, como para ganhar em Recife não tinha jeito mesmo,
ficamos apenas com um terceiro lugar e uma menção honrosa. Valeu,
entretanto, a reportagem de três páginas na extinta Revista “O
Cruzeiro”, sobre o Festival,
transcrevendo com destaque e na íntegra a letra de Beira-Mar e
publicando a foto do Ednardo, acompanhado pelo Big Brasa e pela
orquestra de Recife.
Um
segundo lance desse festival: durante o intervalo da TV, quando nos
preparávamos para entrar “no ar” com o Ednardo, o público do Ginásio,
que estava completamente lotado, começou a vaiá-lo intensamente. E tome
vaia, mesmo porque eles vaiavam tudo que fosse do Ceará. Um cara da
platéia tocava uma buzina duas vezes e depois vinha a vaia. Estávamos
todos muito nervosos, evidentemente. Mas por felicidade e presença de
espírito, talvez, peguei o tom daquela buzina na guitarra e, com o
“wah-wah”, após o cara tocá-la, reproduzi o som no palco com a guitarra a
plena altura. O pessoal gostou, o negócio virou brincadeira, alguns
aplaudiram até e a vaia cessou de repente. Foi ótimo para todos nós. Por
último faço questão de registrar aqui a verdadeira e inadmissível
“melada” do maestro da orquestra pernambucana, que na hora de começar a
apresentação do Ednardo, veio me perguntar o andamento da música para
fazer a introdução. Eu expliquei para ele e cantei as primeiras notas da
melodia, no andamento correto. Qual foi nossa surpresa quando esse
maestro iniciou Beira-Mar com um andamento completamente acelerado.
Nosso baterista estava com a orquestra. Foi uma luta nos segundos
iniciais para tentar fazer o andamento retroceder ao original, uma
verdadeira briga entre a orquestra e o Conjunto. De propósito ou não
isso certamente contribuiu para atrapalhar o Ednardo, que ficou mais
branco do que pó de giz durante toda a música. Esse “pequeno deslize” do
maestro pernambucano, de propósito ou não, prejudicou de forma
significativa nossa “performance” naquela noite.
Nas
folgas, depois dos compromissos com ensaios, saíamos em grupo para
conhecer os pontos principais de Recife. Quase tudo financiado pela TV
Ceará, ou Diários e Emissoras Associados do Ceará, da Rede Tupi.
Conhecemos duas adegas muito bonitas e aconchegantes, que apresentavam
shows noturnos. A Adega do Bocage e da Mouraria. Estivemos também na
praia da Boa Viagem e em algumas boates da cidade.
João Ribeiro da Silva Neto
Do livro "O Big Brasa e minha vida musical" (1999)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe sua mensagem no Blog e participe desta época inesquecível dos Anos 60 e Jovem Guarda!