Um inesquecível duelo musical
Certa
ocasião, em um sábado à tarde, quando cheguei à TV Ceará para o
programa Show do Mercantil encontrei três pessoas instalando um
equipamento em uma lateral do palco, perto do local onde o Big Brasa
ficava durante todo o programa. Aquele pessoal acabara de ligar um
amplificador e um órgão eletrônico. Eu observava discretamente o grupo,
enquanto ligava também nosso instrumental, preparando-o para dar um
ligeiro ensaio com os calouros e cantores da terra, ou seja, uma “rápida
passada” nas músicas, como a gente dizia.
Logo
que terminaram sua montagem, um deles, bem lentamente, com toda a
calma, sentou-se ao órgão e começou a tocar. Primeiro, testou alguns
timbres, com diversas mudanças de registros, enquanto empregava uma
harmonia bem estruturada. Percebi, de imediato, que aquele tecladista
era muito bom. Enquanto ele continuava a tocar, executando uma seqüência
harmônica, ou seja, um tema super favorável à improvisações, liguei
minha guitarra e comecei a acompanhá-lo. De início, eu fiz apenas
algumas notas e produzi efeitos sonoros rápidos, inclusive utilizando a
alavanca da guitarra, combinando com a harmonia e o ritmo do órgão. O
tecladista, por seu lado, começou a se empolgar e deu vazão à
criatividade. E, nesse clima, descontraído e gostoso, sem parar, tocamos
por uns dez ou quinze minutos. Encerramos aquele tema improvisado de
forma muito legal, parecendo que tínhamos ensaiado por muito tempo. Na
realidade, nem nos conhecíamos e nada tinha sido programado.
Nessa
hora, cheguei perto daquele tecladista para cumprimentá-lo. E só então
pude perceber que era deficiente visual. Aquela “fera” chamava-se Sérgio
Sá, um excelente músico e compositor, parente do radialista Colombo Sá,
de Fortaleza, e que iria se apresentar, também naquela tarde, no Show
do Mercantil.
O
“Serginho”, como era chamado, gostou demais do som que tiramos, elogiou
os meus improvisos e me deu um grande abraço. Conversamos bastante,
tentando marcar um novo encontro musical, para que aquela sessão pudesse
ser repetida. Nunca esqueci esses bons momentos.
Foi um duelo musical que não teve vencido, nem vencedor, visto que nós, ganhamos a sincera admiração de um músico pelo outro.
João Ribeiro da Silva Neto
Do livro "O Big Brasa e minha vida musical" (1999)
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