Os chatos de galocha e os “bicões”
Quem
alguma vez participou de conjuntos musicais os conhece bem. O Big Brasa
identificou, ao longo de sua existência, vários deles...
Os
“chatos”, eram aqueles indivíduos que estavam presentes em quase todas
as apresentações do conjunto. Se fosse apenas a presença deles, não
haveria problema. A atuação desses caras é que nos incomodava. Apesar de
tudo gostavam do Big Brasa, motivo pelo qual não faltavam nenhuma festa
por ele tocada. Normalmente, quando o grupo estava montando ou testando
os equipamentos, um chato aparecia, com aquele ar de quem está “por
dentro” de tudo. Sempre que o Edi, nosso baterista, via algum deles se
aproximar do palco, logo me avisava, sorrindo:Beiró, lá vem ele de novo
...
E
começava a achar graça, já contando com as perguntas bobas daquele
elemento, e também com as nossas respostas, mais cretinas ainda, na
tentativa de bloquear seu papo e encurtar a conversa.
Os
chatos, sempre examinavam nosso equipamento, atentamente, na tentativa
de notar alguma novidade que fosse motivo de comentário. Se não
encontravam nada, perguntavam sobre o repertório, se tínhamos incluído
essa ou aquela música, a que horas o conjunto ia começar, quantos
intervalos faríamos, dentre outros detalhes. E ficavam nos rodeando,
fazendo com que nosso bigus tivessem o cuidado para que nenhum cabo
fosse pisado ou quebrado por eles, coisas assim.
A
história volta e meia se repetia, eis a questão. Enquanto nós estávamos
ocupados, e com a atenção voltada para nosso trabalho, eles nos
perturbavam com as mesmas perguntas.
Durante
a festa, os chatos gostavam de subir ao palco e falar com alguém do
conjunto, somente para “aparecer”. Por vezes, criticavam outros
conjuntos, enquanto nos elogiavam para fazer média. Por questão de
ética, nunca entramos nesse tipo de conversa.
Os
“bicões”, por sua vez, atuavam de maneira diferente. Seu “modus
operandi”, era o de aproveitar o momento da entrada de participantes do
conjunto no clube, para misturar-se entre eles e entrar de graça na
festa. Faziam questão até de ajudar a carregar os equipamentos, para
atingir seu objetivo. Chegavam mesmo a tomar um estojo de guitarra, um
amplificador ou qualquer acessório de um bigu, enquanto descarregavam o
material, para com eles entrar no clube. Depois disso, desapareciam.
Outros
tipos de bicões eram aqueles que apareciam apenas na hora do intervalo,
quando o conjunto estava se servindo de um lanche. Jogavam alguma
conversa fiada fora e depois, de forma sutil, nos surrupiavam um
sanduíche ou um refrigerante. Como o lanche para o conjunto muitas vezes
vinha na quantidade certa, o aparecimento de um bicão poderia
significar falta de lanche para alguém.
João Ribeiro da Silva Neto
Do livro "O Big Brasa e minha vida musical" (1999)
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