Anjo da guarda, às vezes precisa de ajuda
Creio
plenamente que temos nossos espíritos guias, amigos que nos orientam e
que nos ajudam a trilhar nosso caminho. É preciso, porém, no meu
entender, que nossa mente esteja em sintonia com eles, receptiva, caso
contrário a comunicação não procederá a contento. Há aqueles,
entretanto, que acreditam cegamente no destino, ou seja, que não podem
evitar nada que já estaria marcado para acontecer. Acho que não, pois
nós podemos dar uma “ajudazinha” em nosso próprio destino. Nada acontece
simplesmente por acaso, penso eu.
O Big Brasa, mais uma vez tinha sido contratado para tocar um baile de “reveillon”, em Sobral, distante 225 quilômetros
de Fortaleza. Nosso transporte estava sendo feito por uma Kombi,
contratada especialmente para aquela oportunidade, sendo dirigida por
rapaz de 18 anos que estava praticamente inaugurando sua carteira de
motorista, portanto um novato no ramo. Era um sobrinho do Luciano
Franco, nosso contrabaixista. No
percurso de ida tudo transcorreu normalmente. Eu e o Adalberto, que
éramos acostumados a dirigir em estrada, com as camionetes carregadas,
ficamos atentos ao motorista para observar seu desempenho, visando nossa
própria segurança e a do grupo inteiro.
Chegamos
bem ao nosso destino, instalamos os equipamentos e tocamos todo o
baile, sem problemas. O procedimento normal para uma pessoa que dirige,
principalmente quando está contratado para aquele fim e tem a
responsabilidade de retornar dirigindo, é o de dormir a noite inteira
para estar bem descansado de manhã. Mas não foi assim. Aquele rapaz
resolveu ficar um pedacinho na festa e deve ter perdido um bocado de
sono.
De
manhã, na hora em que nosso pessoal estava desmontando todo o
equipamento e colocando-o na Kombi, perguntamos se ele tinha dormido
bem, ao que respondeu afirmativamente. Mas não me convenceu, por seu
jeitão meio enfadado. Começamos a viagem de volta. Pouco tempo e todo
mundo, pelo cansaço, já estava dormindo. No banco traseiro, eu e o
Adalberto não conseguimos dormir. Ficamos observando o cara o tempo
inteiro, vendo como fazia as curvas, a velocidade, e também sua
fisionomia, que víamos pelo espelho retrovisor interno. Notei que, de
vez em quando, ele começava a fechar os olhos e forçava para abri-los
novamente. Mau sinal. Avisei ao Adalberto e aumentamos nossa atenção.
Poucos minutos após, avistamos que a nossa Kombi tinha pela frente um
caminhão, à distância de mais ou menos uns trezentos ou quatrocentos
metros. O novato, então, prosseguia como se não estivesse vendo nada. E
ia chegando mais perto, pois nossa velocidade era bem maior do que a do
caminhão. Quando percebemos, com certeza, de que ele não tinha avistado o
tal carro e iria fatalmente “engavetar” em sua traseira, resolvemos
avisá-lo. A uns duzentos metros do caminhão, avisamos:
- Cuidado, olha o caminhão aí!
O
cara assustou-se e, prontamente, meteu o pé no freio, como se estivesse
“em cima” do carro, desequilibrando completamente a Kombi na estrada.
Na realidade ele estava cochilando e não viu nada. Quase que provoca um
enorme acidente. Fizemos então com que ele parasse e, mesmo sem querer
assumir que não estava com sono, teve que lavar bem o rosto para que
pudesse nos trazer de volta mais tranqüilos. Naquela hora, parece até
que o anjo da guarda dele estava dormindo, e precisou ser ajudado...
João Ribeiro da Silva Neto
Do livro "O Big Brasa e minha vida musical" (1999)
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