Solidariedade à toda prova
Há
tempos de alegria e tempos de tristeza. Horas para sorrir e horas para
chorar. Este fato, ocorrido com um participante do Big Brasa, meu primo e
amigo Adalberto, merece registro, por ser exemplo de como Deus está
presente em nossas vidas.
O
Adalberto sempre gostou muito de corridas de automóveis. Quando podia
marcava presença no autódromo do Euzébio, para ver a Fórmula Ford e
outras corridas de campeonatos regionais. Em uma tarde de domingo, eu, o
Adalberto e o Carló, fomos assistir a uma dessas provas
automobilísticas. Muita gente de Messejana por lá, aglomeração na
entrada e movimentação intensa de pessoas para ver os carros de corrida
antes da prova ter início. Como eu não tinha nenhum interesse
específico, nem tanta empolgação assim por corridas, fiquei circulando
por toda aquela área, vendo um pouco de cada uma das curvas e apreciando
a movimentação. Se é que existia algum controle ou supervisão de
segurança do autódromo, no que se refere à entrada de pessoas nas áreas
consideradas perigosas, esse sistema deveria ser muito deficiente.
Quando
a corrida estava perto do final, eu conversava com alguns colegas perto
das arquibancadas, em frente a reta da chegada. Nos instantes finais
ouvi alguém anunciar o vencedor. Mas, olhando para a pista, a uma
distância de uns trinta metros, via muitos carros ainda passando,
velozmente, para completar as voltas ou para decidir um segundo lugar,
não sei bem. De repente, observei um grupo de três pessoas tentando
atravessar a pista, mesmo com alguns carros ainda em movimento. Uma
frenagem brusca. À minha esquerda notei que duas daquelas pessoas
conseguiram voltar atrás. O terceiro cara, que estava fotografando um
dos carros já estacionados em um dos “boxes”, foi violentamente colhido
por um carro branco, que desenvolvia grande velocidade. Pude acompanhar a
trajetória daquele corpo por uns quinze metros, até vê-lo cair no chão.
O rapaz atropelado tentou levantar-se na mesma hora, sem no entanto
conseguir. Nesse momento houve um tumulto geral. Ao mesmo tempo em que
várias pessoas corriam para ver o acidente, outras saíam apressadamente
do autódromo. Eu estava entre os que saíam, quando ouvi um colega me
dizer algo assim: - João Ribeiro, o “Carló” foi atropelado lá dentro,
você viu?
Fiquei
muito assustado e não sabia direito o que fazer. A muito custo entrei
novamente no autódromo, mas não achei ninguém que me informasse detalhes
sobre o acidente. Soube apenas que patrulheiros da Polícia Rodoviária
Federal tinham levado o acidentado para um hospital.
Muito
apreensivo, providenciei minha volta para Messejana, conseguindo carona
em uma “pick-up”, juntamente com o Célio Freitas, nosso vizinho e
amigo. Chegando em casa obtive a confirmação, por intermédio de meus
pais, de que o acidente tinha acontecido com o Adalberto e não com o
Carló. Ambos eram muito parecidos e muitas pessoas os confundiam.
Prontamente
o Adalberto foi atendido em uma unidade hospitalar de emergência. Neste
momento é que se faz necessário destacar a importante providência
divina, tendo em vista que o médico de plantão que o atendeu decidiu
amputar a sua perna, tendo chegado até mesmo a marcar a hora da operação
para a tarde daquele mesmo dia. O “milagre” ocorreu por conta de um
atraso desse médico, que nos possibilitou consultar outro profissional, o
Dr. Afrânio, excelente médico ortopedista, que discordou totalmente do
primeiro diagnóstico e, após devidamente autorizado pelo Mestre Alberto,
tratou do Adalberto de forma impecável, curando-o integralmente.
Após
a notícia de esse acidente ter sido divulgada através de emissoras de
rádio, houve solidariedade geral por parte de músicos de diversos
conjuntos de Fortaleza, e de populares que conheciam o Big Brasa, que de
imediato se prontificaram a fazer doações de sangue.
Durante
alguns meses o Adalberto ficou ausente do conjunto, por força do
ocorrido. Nesse período, entretanto, recebeu constantes visitas de
amigos e fãs, que muito se preocuparam com seu pleno restabelecimento.
Garotas chegavam a todo instante levando cartões com mensagens e
bilhetinhos.
As
manifestações de solidariedade permaneceram por todo o tempo em que
esteve internado, sendo um dos fatores positivos para sua plena
recuperação. Às vezes a movimentação era tão grande que chegava a
interferir no hospital. Seu tratamento foi muito bem sucedido, não lhe
deixando nenhuma seqüela. E ele, com muita força de vontade e
sacrifício, logo que pôde retornou ao palco, ainda com a perna
engessada.
Após
sua saída do hospital, onde passou alguns meses internado, o Adalberto
fez questão de assistir a primeira corrida que houve no autódromo. E
esteve lá, de perto, para conferir tudo. Mas desta vez, nada de
fotografias!
João Ribeiro da Silva Neto
Do livro "O Big Brasa e minha vida musical" (1999)
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