O revezamento “perfeito”
Nos
períodos de carnaval e “reveillon”, o Big Brasa contratava músicos
adicionais, de instrumentos de sopro. Na quase totalidade das vezes as
contratações foram bem sucedidas, o pessoal desempenhou bem as funções,
sem problemas. Entretanto, toda regra tem uma exceção...
Uma
delas foi em um “reveillon”, no qual o conjunto foi contratado para
animar um baile no Iate Clube de Fortaleza. Eu não tinha nenhum
instrumentista de sopro em mente e tive que me deslocar até a Praça do
Ferreira, para o “ponto dos músicos”, local onde a rapaziada toda se
encontrava. Empresários, para agenciar contratos e músicos diversos.
Não
gostava muito daquele “ponto”, primeiramente porque não tinha tempo e
em segundo lugar porque o pessoal se ocupava demais em falar dos outros,
o que nunca foi o meu forte. Mas fiz contatos com três músicos da banda
de música da Base Aérea. Os instrumentos: sax, piston e trombone de
vara. Estaria cem por cento, pensava eu. Convidei-os para um ensaio e
eles desconversaram, dizendo que não seria necessário porque tinham
muita prática, as músicas todas estavam nos álbuns e não haveria
problema. Achei que sim, em vista da idade e da aparência dos caras, de
profissionais experientes...
No
dia do baile iniciamos bem. Até a meia-noite, o conjunto executou seu
repertório normal, enquanto os instrumentistas de fora aguardavam,
bebendo cerveja... Péssimo sinal, mas já naquela hora não daria para
fazer nada.
Após
um rápido intervalo, passado o ano, depois da meia-noite entraram os
“metais”. Começamos tocando uns três frevos bem animados e algumas
marchas. Durante uns trinta minutos tudo bem. Mas depois começou o que
eu achei uma verdadeira palhaçada. Ao invés desses três músicos
permanecerem no palco, fazendo arranjos e tocando em conjunto, ficava um
só, enquanto outro descia do palco e bebia cerveja lentamente, nos
olhando com a maior calma. Enquanto isso, o terceiro estava no banheiro,
fazendo xixi. Isso durou quase até o final do baile, apesar de minhas
insistentes reclamações aos três irresponsáveis.
Mas
no final, o negócio piorou mais ainda: um deles, o trombonista, que
estava de “cara cheia”, cismou de ficar embaixo do palco e enquanto nós,
logicamente em cima do palco, tocávamos uma música, ele simplesmente
virava o trombone para nosso lado e tocava outra música, ou fazia
pequenas frases musicais completamente diferentes da música em andamento. Foi preciso eu descer do palco e firmemente ordenar que ele parasse de tocar.
Para
completar, após o baile, mesmo a contragosto, fui efetuar o pagamento
aos caras para logo me livrar deles. Enquanto tirava o dinheiro, contava
e pagava, perdi 500 mil, não sei como. Procuramos em volta do palco,
por onde eu tinha andado, sem sucesso. Alguém, na entrada desse Ano Novo
se deu bem às minhas custas...
Naquela
noite, houve o que se pode chamar de “revezamento perfeito”, por parte
dos músicos de fora, contratados: um tocando, outro bebendo e o terceiro
mijando. Foi de lascar...
João Ribeiro da Silva Neto
Do livro "O Big Brasa e minha vida musical" (1999)
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