O meu gradual retorno à música
Após
o meu desligamento da sociedade com “Os Faraós” em virtude de meu
ingresso no serviço público, passei alguns anos totalmente afastado do
meio musical, conforme falei anteriormente, mas sempre sentindo aquele
desejo reprimido, uma vontade interior de tocar novamente. Pouco a pouco
as experiências de retorno à música começaram a ocorrer.
Primeiramente
formei um grupo musical, sem grandes pretensões e sem compromissos
profissionais, com três grandes amigos, Roberto Faria da Silva (Beto
Carioca), sua esposa Rinah Melo e nossa amiga Laury. Usava a princípio
um órgão Yamaha PSR 70, muito bom, e um sintetizador DX7. Começamos a
ensaiar e aprontamos um repertório de alta qualidade. Nos apresentamos
em diversas oportunidades em encontros de amigos e chegamos até mesmo a
realizar algumas funções remuneradas. Evoluímos tanto no instrumental e
no repertório quanto tecnicamente. O pessoal ficava cada vez mais
afinado e aprendia rapidamente os macetes profissionais.
Em
outra fase fui convidado por meu amigo César Barreto a participar do
Projeto Luiz Assunção, que consistia em apresentações públicas nas
principais praças de Fortaleza, sob patrocínio da Prefeitura Municipal.
Foi uma experiência rica, pelo contato direto com o público e repertório
mais popular. Conheci outros músicos, que acompanhavam o César, de
estilos diferentes, mas todos de ótima qualidade. Nesse período eu
utilizava uma viola de doze cordas, de propriedade do César, que possuía
uma sonoridade espetacular.
O
César sempre brincava comigo, dizendo que tinha conseguido me colocar
na vida novamente, referindo-se à vida de músico profissional, com todas
as suas dificuldades. Sobre o César Barreto, é importante dizer que na
época em que integrava “Os Rataplans”, conjunto famoso em sua época, ele
conseguia estudar para o vestibular dentro de casa, no meio de vários
ensaios simultâneos. Um músico treinando bateria, outro tocando guitarra
e ele lendo suas apostilas calmamente. Hoje em dia é Técnico do
Tribunal de Contas do Estado e professor universitário. No entanto nunca
abandonou o gosto pela música.
Com
o César estive também fazendo um programa de televisão na TV Educativa e
realizamos alguns shows pelo interior do Ceará, um deles em Crateús e
outro em Campina Grande,
na Paraíba. Além disso, tive a oportunidade de alguns créditos como
tecladista e guitarrista, nas gravações de dois discos por ele
produzidos.
Mais
à frente tive um reencontro com o Airton França, depois de alguns anos
em que não nos víamos. Ele ficou muito entusiasmado com a idéia de
começarmos novamente a tocar, por pura diversão, e combinamos fazer uma
dupla. Primeiramente o Airton comprou um piston novinho em folha, com
surdina e tudo. Recuperou a embocadura bem depressa e logo começou a
solar de novo as antigas músicas do Herbert Albert. Alguns meses mais
tarde decidimos ir a Manaus, onde eu adquiri um teclado mais moderno e
ele comprou um violão importado, tipo Ovation. Continuávamos ensaiando. O
que nos surpreendeu foi a rapidez com que o Airton desenvolveu suas
harmonias ao violão. Estudava por cifras e comprava tudo quanto era
revista que contivesse músicas novas. Na época que ele apenas era
pistonista do Big Brasa não cantava quase nada, fazendo participações
vocais muito rápidas. Em nossa recente dupla, o Airton cantava muito bem
todo o repertório, particularmente as músicas do Fagner.
Ensaiávamos
umas três vezes por semana, com bastante afinco, nos finais de tarde.
De repente ele apareceu com um amplificador novo, para que o som de
retorno tivesse melhor qualidade. Comprou também uma pedaleira, com
vários pedais de efeitos. Por muitos meses nosso grupo permaneceu firme.
E eu também passei a ficar novamente alucinado pela música.
Como o Airton viajava freqüentemente para o Rio de Janeiro, a negócios, pedi
para que ele me trouxesse o novo modelo do sintetizador mais famoso da
Yamaha, o DX7-II, instrumento excelente e que até hoje possuo. Com esse
teclado adquiri um acessório muito interessante, chamado de Breath
Control, que tecnicamente consiste em um aparelhinho com um bocal,
interligado ao sintetizador, onde você produz um sopro que é enviado
para o gerador de áudio do equipamento, de forma que quando tocamos no
teclado o som se assemelha a um instrumento de sopro, de acordo com o
timbre ou registro escolhido.
Por
último, vale destacar os mais novos recursos musicais trazidos pela
Informática, este fascinante mundo que descobrimos há alguns anos, com
seus inúmeros programas direcionados para a música. Por curiosidade e
satisfação pessoal adquirimos um teclado, marca Roland, específico para o
acionamento desses programas. Desde a criação de melodias e harmonias,
passando pela sonorização, escolha dos instrumentos, elaboração das
partituras, gravação e possibilidade de alteração a qualquer tempo das
músicas, tudo podemos conseguir facilmente através do computador e seus
softwares musicais. Tal a facilidade de operação e de recursos que um
dia consegui produzir rapidamente um playback para a minha filha
Cristiane cantar, na época em que ela estudava no Colégio 7 de Setembro.
João Ribeiro da Silva Neto
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