Carnaval na marra? A gente quase se enrasca...
Mais
uma daquelas situações difíceis, os chamados “rabos-de-foguetes”, ou
imprensados, pelos quais nós passamos algumas vezes. O Big Brasa tinha
sido contratado pela AABB, de Iguatu, para animar um baile de
“reveillon”. Ficamos muito entusiasmados com a viagem, mas não nos
preparamos devidamente para o evento, pois apenas ensaiamos várias
marchas e alguns frevos, mas com um detalhe: o conjunto não tinha
instrumento de sopro. As músicas teriam que ser executadas através de
solos de guitarra e cantadas. E como agravante, também, não tínhamos um
cantor acostumado com carnaval, que agüentasse a parada, como se diz.
Mas todo mundo continuava inocentemente na maior animação, com os
preparativos e ensaios para o que seria um “grande baile”. O pior ainda
estava para acontecer e, por total falta de experiência, não sabíamos. E
muito menos os contratantes, pois nada perguntaram sobre esse “pequenos
detalhes”.
Chegando
naquela cidade fomos recebidos pela diretoria da AABB, que nos
proporcionou um verdadeiro banquete na sede do clube. Mesa farta, tudo
do bom e do melhor, uma mordomia danada. Depois da lauta refeição,
iniciamos a montagem de nosso instrumental no palco, que em nada nos
favorecia, em razão de ficar no mesmo nível do salão de dança. Isso
certamente dificultaria muito a distribuição sonora do conjunto para
todo o clube, pois as pessoas que estivessem em nossa frente bloqueariam
de certa forma as caixas de som.
E
começou o baile. O Big Brasa iniciou a festa com seu repertório normal e
seguiu assim até a meia-noite, quando após de um pequeno intervalo
começou a tocar músicas carnavalescas. Muita gente no clube. O tempo foi
passando e “engolindo” nosso pequeno repertório, que acabava
rapidamente.
Nossa
preocupação inicial com o problema da distribuição de som tinha razão
de ser. Além da presença de um grande número de pessoas no salão, havia
aquelas que se postavam paradas na área em frente ao conjunto e às
caixas de som, obstruindo sua propagação ideal pelo clube. E assim, com o
repertório carnavalesco se acabando, nosso ânimo foi diminuindo e a
tensão aumentando, porque ainda faltava muito para a festa acabar. Para
completar, alguns dos presentes começaram a pedir mais animação para o
conjunto e algumas músicas que não sabíamos tocar. Mas não tinha como
atender o público, porque nosso volume de som era pequeno, o repertório
também, a distribuição das caixas estava prejudicada pelo seu
posicionamento e o conjunto não tinha os “metais”.
E a coisa foi piorando - um
sufoco dos diabos. Até o Mestre Alberto, que estava no palco muito
apreensivo, mas mesmo assim não parava de incentivar o conjunto, de
repente pegou o microfone e começou a cantar uma música antiga de
carnaval. Imaginem só que verdadeiro aperreio.
Para
encurtar a história e dar uma dimensão exata do que aconteceu naquela
noite, um dos garçons, que tocava piston nas horas vagas, deve ter
ficado com pena de nossa situação e perguntou se queríamos que ele fosse
buscar em casa seu instrumento. Nós aceitamos a ajuda, imediatamente.
Ele foi pegar seu piston e logo retornou ao clube. Esse garçom nos
prestou uma ajuda muito importante para que conseguíssemos terminar a
festa. Ao final desse pesadelo, pelo menos ficou a experiência de que
tínhamos que estar realmente preparados para eventos daquela natureza.
Experiência essa que muito nos ajudou no futuro.
João Ribeiro da Silva Neto
Do livro "O Big Brasa e minha vida musical" (1999)
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