Imagens perdidas de um festival de rock...
Em
1971, o Big Brasa participou de um festival de rock, realizado no
auditório da Universidade Federal do Ceará. Preparamos algumas músicas,
escolhidas cuidadosamente, de modo a causar o maior impacto possível,
pois sabíamos que o evento seria muito bem divulgado, e que boa parte de
nosso público, sem dúvida, tomaria conhecimento da nossa atuação.
Dentre as músicas, um "blues", no melhor estilo de Jimi Hendrix, com um
tema especialmente criado por nós, cuja harmonia possibilitava
improvisações para a guitarra-solo, do jeito que eu mais gostava. Além
de estar naquele tempo com uma guitarra excelente, contava ainda com a
ajuda de uma “distorção” e de um pedal tipo “wah-wah”, ambos de boa
qualidade.
Para
esse festival, eu estava muito bem preparado tecnicamente, pois
estudava horas e horas a fio, exercitando escalas e mais escalas, para
aumentar a agilidade em minha guitarra branca, tipo “Gibson”. Essa
guitarra, por mim reformada, possuía um som da melhor qualidade, do qual
falei anteriormente. Passei a semana inteira dedicando todo o meu tempo
disponível, revendo os arranjos, com o pessoal do conjunto, no sentido
de que o Big Brasa fizesse uma apresentação marcante.
Depois
dessa expectativa, chegou o momento de mostrarmos nosso trabalho. O
ambiente no auditório da UFC estava amplamente favorável para nós. Mesa
de luzes, com “canhão”, um sistema de som razoável, amplificadores de
boa potência e qualidade, e muita gente para ver o show.
O
Big Brasa foi o último grupo a se apresentar, dos quatro conjuntos
participantes. Os organizadores do festival fizeram essa escolha de
propósito, creio eu, pois conheciam nosso “potencial de fogo”, naquele
momento, para fechar com chave de ouro aquela apresentação. Estávamos
nesse período, realmente, com um “time” que jogava muito bem, todo mundo
sabia o que fazer, portanto, tudo muito ensaiado e afinado.
Ao
chegar a nossa vez, subimos ao palco, ligamos nossos equipamentos e
“sentamos o porrete”, como se diz na gíria. No primeiro tema
apresentado, os aplausos e a vibração da galera foram enormes, o que
aumentou de forma significativa nosso entusiasmo.
Antes de iniciarmos a segunda música, chegou a equipe de filmagem do “Canal 10”,
a Televisão Verdes Mares, da Rede Globo. Naquele tempo, as televisões
ainda não tinham câmeras gravadoras de videoteipe, e os eventos eram
filmados. As imagens, portanto, só passavam na televisão no dia
seguinte, após a revelação e todo o processo de edição dos filmes da
véspera.
Tivemos
muita sorte até nisso, porque, durante a nossa segunda música, um blue,
com bastantes improvisações de guitarra, praticamente tudo foi filmado,
com detalhes para a bateria e principalmente para os solos de guitarra.
Naquele dia, eu realmente estava inspirado. Via aquelas luzes e câmeras
em minha frente, as quais, associadas aos efeitos existentes e ao
vibrante som produzido por nossos instrumentos, faziam que eu me
sentisse verdadeiramente em outra dimensão. Torna-se difícil, para mim,
descrever esse tipo de sensação através da escrita. Só a conhece, quem
teve a oportunidade de tocar um rock pesado ou um blue, de improvisar,
de cantar ou de estar entre amplificadores muito potentes. É por aí...
Esperamos,
com toda a ansiedade, para assistir o jornal da Verdes Mares do dia
seguinte. E valeu a pena. O repórter, após ter noticiado o festival, em
matéria bem produzida, apresentou um longo trecho do filme em que o Big
Brasa aparecia. Todo mundo lá em casa vibrou junto comigo. Na rua e nos
clubes, nas semanas seguintes, a repercussão foi extraordinária. Meses
depois, tentei conseguir esse filme, na TV Verdes Mares, mas não obtive
sucesso. Fiz o possível com o setor de filmagens para localizar aquele
pequeno filme, mas o pessoal alegava não mais encontrá-lo. Hoje, essas
imagens teriam para mim um valor inestimável.
João Ribeiro da Silva Neto
Do livro "O Big Brasa e minha vida musical" (1999)
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