Dinheiro que “fazia lama”
Às vezes o músico se dá muito bem, conseguindo faturar até mesmo mais do que o combinado. Vejam
só esse lance: contratado por um médico para tocar em uma recepção, que
faria em sua casa, para comemorar seu aniversário, levei como bigu o
Sérgio, que me acompanhava nessas ocasiões, funções musicais extras,
como casamentos e aniversários, para as quais eu utilizava apenas o
órgão. Tive que cobrar um preço mais alto que o normal, pela hora, tendo
em vista que o tal médico, categoricamente, disse que só desejava uma
hora e nada mais. Tudo bem. Iniciei às oito horas da noite, conforme
acertado. Na residência, que ficava perto da Praia do Futuro, muito boa
por sinal, não havia chegado ninguém. Só uns dois ou três garçons e o
pessoal da casa fazendo os preparativos. Essa hora passou rapidamente e
não chegou ninguém. O médico, com toda gentileza, perguntou se eu
poderia tocar mais uma hora. Afirmei que sim e continuei. Tocava algumas
músicas, parava um pouco, tomava um refrigerante e comia salgadinhos e
doces. Logo a outra hora se passou e só alguns “gatos pingados” tinham
chegado ao ambiente. E a história foi se repetindo. Mais uma hora e o
pessoal começou a chegar. Mais convidados chegavam e a recepção foi
animando, naturalmente depois de alguns uísques do pessoal.
Enfim,
toquei até as três e meia da manhã! Só parei porque estava
verdadeiramente cansado, saturado de tanta música. E também por questão
de consciência, alertei ao aniversariante que se continuasse a tocar o
pessoal só sairia dali de manhã... E ele prontamente aceitou minha
sugestão, a de encerrar a música ao vivo. Ao final recebi o pagamento em
espécie, logicamente por todas as horas e ao preço previamente
acertado. Nessa noite fiz questão de gratificar o Sérgio com uma quantia
maior que a de sempre.
Fiquei
muito satisfeito com o resultado daquela noite de trabalho. Queria logo
voltar para casa e contar o fato para a Aliete. Ao chegar, assim que
abriu a porta, eu brinquei com ela, jogando todo o dinheiro para cima e
deixando-o inteiramente espalhado pela sala de nossa casa. Ganhei nessa
função mais ou menos o equivalente ao meu ordenado de um mês na TV
Educativa. Foi bom ou não foi?
João Ribeiro da Silva Neto
Do livro "O Big Brasa e minha vida musical" (1999)
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