quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Como quem não quer, querendo...


Como quem não quer, querendo...


Nota explicativa:

Este é o começo do capítulo Episódios Diversos, do livro O Big Brasa e minha vida musical. Procuramos extrair do livro aqueles mais significativos, mas as histórias continuam na íntegra em Destaques, neste Portal.
João Ribeiro (Beiró)

No final do primeiro ano do Big Brasa, aconteceu um fato que para nós foi muito significativo. Estávamos ainda lutando muito para divulgar o conjunto e ganhar mais espaço no meio musical de Fortaleza.

Fomos convidados para participar de uma festa no Clube dos oficiais da Aeronáutica, chamado de “F-80”, nome de um avião caça, a jato, antigamente utilizado pela Força Aérea Brasileira. Nossa contribuição seria apenas a de um pequeno show durante o intervalo, visto que para o baile, o clube tinha contratado o conjunto “Alberto Mota”, um grupo musical excelente, composto de profissionais tarimbados e, portanto, “macacos velhos”. Daríamos uma “canja”, termo utilizado no jargão musical para essas situações.

Chegamos no início do baile e ficamos observando o Alberto Mota tocar, para aprender mais e pegar todos os macetes possíveis, como sempre fazíamos em outras ocasiões. O próprio Alberto Mota, que dava nome ao conjunto, músico veterano, naquela noite tocava piano. Posteriormente passou a utilizar também uma “pianola”, que era nada mais, nada menos, do que um pequeno órgão eletrônico, muito simples e de parcos recursos, acoplado ao piano. Alguns anos mais tarde, o piano foi abolido daquele grupo musical, cedendo lugar aos órgãos eletrônicos mais modernos.

E a festa seguiu, até o intervalo, dentro de um clima meio desanimado, tanto pelos participantes, que não ocupavam muito a pista de dança, quanto pelo “Alberto Mota”, que tocava o baile rotineiramente, sem muito esforço para animá-lo. Acomodação que muito nos favoreceu.

Chegando a hora de nossa apresentação, reorganizamos o posicionamento dos microfones no palco, a posição da bateria, de modo que ficasse mais visível, pegamos nossas guitarras e as ligamos nos amplificadores do Alberto Mota, que nos cedeu gentilmente seu equipamento.

Iniciamos com nosso prefixo, “And I Love Her”, de mansinho, e depois “atacamos” com nossas músicas mais animadas, ou seja, com aquele repertório que estava na “crista da onda”, da Jovem Guarda, em especial  iê-iê-iê. Os oficiais presentes e demais convidados, tiveram um verdadeiro impacto pela mudança radical do tipo de som entre os dois conjuntos. O Alberto Mota, conjunto tradicional, com sambinhas, muita bossa nova, e o Big Brasa, com o som vibrante das guitarras e o tipo de repertório moderno, que sem dúvida era bem mais animado. O resto ficou por conta dos uísques que o pessoal já deveria ter tomado àquela altura da festa.

Notou-se uma mudança repentina no salão. Muitas pessoas dançando animadamente e o Big Brasa com força total, empolgação de sobra. Devemos ter tocado uma meia hora, quando paramos para que o Alberto Mota desse prosseguimento normal ao baile. Aí a coisa pegou, porque o pessoal não queria mais o Alberto Mota, preferindo que a festa continuasse com o Big Brasa. E agora? A situação, para nós foi constrangedora. Não pudemos fazer nada, a não ser ouvir e acatar a difícil solução tomada pelos diretores do clube, os quais resolveram, acertadamente, no meu entender, deixar o Alberto Mota continuar a festa.

Mais uma vez, foi confirmada aquela história, muito conhecida pelos músicos, de que deixar outro conjunto “tocar um pouquinho”, durante uma festa, pode ser fatal. Pois se o aquele grupo que entra apenas para um show se apresenta mal, há quem reclame, perguntando: por que deixaram esse grupo tocar?  E, por outro lado, se o conjunto que entra para dar uma canja apresenta-se bem, o prejudicado é o primeiro. Nessa noite, nós aprendemos mais um pouco as manhas da profissão...


João Ribeiro da Silva Neto
Do livro "O Big Brasa e minha vida musical" (1999)

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