quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Solidariedade à toda prova


Solidariedade à toda prova


Há tempos de alegria e tempos de tristeza. Horas para sorrir e horas para chorar. Este fato, ocorrido com um participante do Big Brasa, meu primo e amigo Adalberto, merece registro, por ser exemplo de como Deus está presente em nossas vidas.

O Adalberto sempre gostou muito de corridas de automóveis. Quando podia marcava presença no autódromo do Euzébio, para ver a Fórmula Ford e outras corridas de campeonatos regionais. Em uma tarde de domingo, eu, o Adalberto e o Carló, fomos assistir a uma dessas provas automobilísticas. Muita gente de Messejana por lá, aglomeração na entrada e movimentação intensa de pessoas para ver os carros de corrida antes da prova ter início. Como eu não tinha nenhum interesse específico, nem tanta empolgação assim por corridas, fiquei circulando por toda aquela área, vendo um pouco de cada uma das curvas e apreciando a movimentação. Se é que existia algum controle ou supervisão de segurança do autódromo, no que se refere à entrada de pessoas nas áreas consideradas perigosas, esse sistema deveria ser muito deficiente. 

Quando a corrida estava perto do final, eu conversava com alguns colegas perto das arquibancadas, em frente a reta da chegada. Nos instantes finais ouvi alguém anunciar o vencedor. Mas, olhando para a pista, a uma distância de uns trinta metros, via muitos carros ainda passando, velozmente, para completar as voltas ou para decidir um segundo lugar, não sei bem. De repente, observei um grupo de três pessoas tentando atravessar a pista, mesmo com alguns carros ainda em movimento. Uma frenagem brusca. À minha esquerda notei que duas daquelas pessoas conseguiram voltar atrás. O terceiro cara, que estava fotografando um dos carros já estacionados em um dos “boxes”, foi violentamente colhido por um carro branco, que desenvolvia grande velocidade. Pude acompanhar a trajetória daquele corpo por uns quinze metros, até vê-lo cair no chão. O rapaz atropelado tentou levantar-se na mesma hora, sem no entanto conseguir. Nesse momento houve um tumulto geral. Ao mesmo tempo em que várias pessoas corriam para ver o acidente, outras saíam apressadamente do autódromo. Eu estava entre os que saíam, quando ouvi um colega me dizer algo assim: - João Ribeiro, o “Carló” foi atropelado lá dentro, você viu?

Fiquei muito assustado e não sabia direito o que fazer. A muito custo entrei novamente no autódromo, mas não achei ninguém que me informasse detalhes sobre o acidente. Soube apenas que patrulheiros da Polícia Rodoviária Federal tinham levado o acidentado para um hospital.

Muito apreensivo, providenciei minha volta para Messejana, conseguindo carona em uma “pick-up”, juntamente com o Célio Freitas, nosso vizinho e amigo. Chegando em casa obtive a confirmação, por intermédio de meus pais, de que o acidente tinha acontecido com o Adalberto e não com o Carló. Ambos eram muito parecidos e muitas pessoas os confundiam.

Prontamente o Adalberto foi atendido em uma unidade hospitalar de emergência. Neste momento é que se faz necessário destacar a importante providência divina, tendo em vista que o médico de plantão que o atendeu decidiu amputar a sua perna, tendo chegado até mesmo a marcar a hora da operação para a tarde daquele mesmo dia. O “milagre” ocorreu por conta de um atraso desse médico, que nos possibilitou consultar outro profissional, o Dr. Afrânio, excelente médico ortopedista, que discordou totalmente do primeiro diagnóstico e, após devidamente autorizado pelo Mestre Alberto, tratou do Adalberto de forma impecável, curando-o integralmente.

Após a notícia de esse acidente ter sido divulgada através de emissoras de rádio, houve solidariedade geral por parte de músicos de diversos conjuntos de Fortaleza, e de populares que conheciam o Big Brasa, que de imediato se prontificaram a fazer doações de sangue.

Durante alguns meses o Adalberto ficou ausente do conjunto, por força do ocorrido. Nesse período, entretanto, recebeu constantes visitas de amigos e fãs, que muito se preocuparam com seu pleno restabelecimento. Garotas chegavam a todo instante levando cartões com mensagens e bilhetinhos.

As manifestações de solidariedade permaneceram por todo o tempo em que esteve internado, sendo um dos fatores positivos para sua plena recuperação. Às vezes a movimentação era tão grande que chegava a interferir no hospital. Seu tratamento foi muito bem sucedido, não lhe deixando nenhuma seqüela. E ele, com muita força de vontade e sacrifício, logo que pôde retornou ao palco, ainda com a perna engessada. 

Após sua saída do hospital, onde passou alguns meses internado, o Adalberto fez questão de assistir a primeira corrida que houve no autódromo. E esteve lá, de perto, para conferir tudo. Mas desta vez, nada de fotografias!


João Ribeiro da Silva Neto
Do livro "O Big Brasa e minha vida musical" (1999)

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