Três pneus furados, assim é azar demais...
O
Big Brasa estava retornando de mais uma noite de trabalho, por volta
das 4:30 horas da manhã. Tinha sido um baile no Clube de Regatas da
Barra do Ceará. A turma nessa ocasião era composta pelo Adalberto,
Carló, Severino, Luiz Antônio (Peninha) e eu. Nosso transporte era a
famosa rural do Fernando “Galba”. Durante o percurso, muita brincadeira,
pois tudo tinha saído às mil maravilhas, e estávamos bem dispostos
ainda aquela hora. O Peninha imitava o “Zé Bonitinho”, fazendo suas
palhaçadas e o Adalberto tirava um sarro com o “Galba”, dizendo que
aquela rural estava velha demais e sempre pedindo para que ele andasse
mais rápido. E ele sorria bastante, mas não se alterava nem um pouco com
nossas brincadeiras.
À
altura da Cidade dos Funcionários, a alegria foi suspensa, pois a rural
furou um pneu. Na hora, o “Seu” Fernando, disse, com toda a categoria,
que só andava prevenido, e como estava com os pneus um pouco ruins,
tinha dois estepes. Entretanto começou a ficar chateado daí, porque iria
atrasar seu serviço, visto que ele teria que fazer uma outra viagem até
o Regatas, ainda naquela madrugada, para trazer o equipamento do
conjunto.
Descemos
da rural, ele trocou o pneu e reiniciamos o regresso rumo a “Messejana
City”, como a chamávamos. Assim que o Galba ligou o motor da rural e o
carro partiu, o Adalberto, que estava sentado no banco de trás, azarou:
- Vai furar o pneu de novo...
Ao que o Galba respondeu, sorrindo, meio sem graça:
- Nem diga isso, só se for muita “zebra” mesmo.
Não
esperou quase nada. Pouco mais de dois quilômetros, quase na frente da
sede da sede do DNER, baixou outro pneu da rural e aí começou a gozação
geral. Nesse momento o Adalberto falou de novo:
- Eu não disse que ia furar? E o Galba respondeu, querendo demonstrar muita calma, apesar de tudo:
-
Não tem problema, meu amigo, de jeito nenhum. Eu tenho outro pneu de
reserva, não sou motorista “peba” não. Fique calmo que eu logo resolvo
isso...
E
trocou novamente o pneu. À essa altura, a turma já estava sem graça,
querendo chegar em casa, e o sono dominando todo mundo. Assim que o pneu
foi trocado, o Galba mais uma vez reiniciou sua jornada. Logo, o
Adalberto voltou a jogar praga no Galba:
- Ainda vai baixar outro pneu, na certa!
Depois
desse último pneu furado o “Seu” Fernando só fazia sorrir, sem graça,
cansado, e também devia estar louco de raiva do Adalberto, pelas pragas
jogadas por ele. A rural continuou, pela antiga BR-116, e finalmente
chegou à pracinha de Messejana. Na curva em frente à Igreja, o Seu
Fernando parou em frente à casa do Peninha, para que ele descesse. Foi a
conta. Ouvimos um chiado bem alto e novamente outro pneu começou a
murchar. Foi o fim da picada. Todo mundo desceu da rural e ficou
enchendo a paciência do Galba, para valer. Desta vez, infelizmente, não
houve saída para ele, pois teve que tirar aquele pneu furado, juntá-lo
com os outros, para procurar uma borracharia. Ficou literalmente “no
prego”. Não sei realmente quando, nem a que horas ele terminou sua
missão, porque voltamos a pé para casa, andando uns quatro quarteirões.
Haja pneu e azar, deve ter pensado o Galba...
João Ribeiro da Silva Neto
Do livro "O Big Brasa e minha vida musical" (1999)
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