quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Músico principiante em carnaval - tudo novidade !


Músico principiante em
carnaval - tudo novidade !


Em 1969, o Balneário Clube de Messejana nos contratou para o Carnaval. A alegria foi grande, de nossa parte, pois o clube tinha demonstrado confiança no Big Brasa. Seria a primeira experiência com bailes carnavalescos. Eu tinha completado meus 17 anos de idade, portanto ainda muito novo e sem prática nenhuma de bailes carnavalescos. O entusiasmo de todos era muito grande e a responsabilidade pelo contrato também.

Contratamos imediatamente dois instrumentistas de sopro, saxofone e piston, da banda de música da Base Aérea, para assegurar o sucesso musical daquele contrato. Fizemos alguns ensaios, na realidade para aprender mesmo como seriam as coisas, definir mais ou menos o roteiro, as marchas, os frevos. Aprendi logo uma porção de novidades, por exemplo, não sabia nem o que era fanfarra - que é um pequeno trecho de música, executado na tonalidade da música seguinte (ou não), para que o cantor se situe no novo tom. Há uma fanfarra diferente para mudança de ritmo, de marcha para samba e vice-versa.

O cantor, também contratado pelo conjunto especialmente para aquela oportunidade, foi o Nozinho Silva, muito conhecido em Fortaleza. Bastante animado ele garantiria a parte vocal. Por último, como nós estávamos temerosos de não “agüentar o tranco”, contratamos também um percussionista para tocar tarol, peça importantíssima na sustentação dos ritmos de carnaval.

Desse modo, o que sobrava para nós, diante dos profissionais contratados e com muito mais experiência no ramo? Alguns instrumentos de percussão, as guitarras, o contrabaixo e alguma ajuda na parte vocal.  Eu tratei logo de “garantir minha vaga”, pois queria ser útil ao grupo e participar de forma plena daquele carnaval. Além de tocar guitarra, por iniciativa própria, decidi também complementar a percussão utilizando o “ximbau” da bateria para fazer uma batida semelhante à do tarol. A combinação ficava excelente. Usava um prato de bateria à frente, para que também pudesse fazer alguns “breques” e marcações nos momentos apropriados.

Chegando o grande dia, instalamos todo o nosso material no palco do Balneário, que tinha sido recém-pintado, estava com uma decoração muito bonita, salão encerado, mesas bem dispostas por toda a área livre, tudo bem caprichado. Aliás, o Balneário teve nessa época sua fase áurea de organização.  

Antes de iniciarmos o primeiro baile o Big Brasa foi saudado pela diretoria do clube e todos os músicos foram apresentados aos presentes.

E começou a festa. Fanfarra no ar e animação geral com a primeira música, o tradicional frevo “Vassourinha”. Todo o grupo com muita disposição, tocamos uma seqüências de músicas conhecidas, para que os presentes entrassem no embalo mais rapidamente. Após os primeiros instantes, minha preocupação, natural de um principiante em uma estréia carnavalesca, desapareceu totalmente e entrei de corpo e de espírito naquele clima de folia momina.

A festa foi transcorrendo e eu observando todo o grupo, gostando demais dos instrumentistas de sopro, das músicas, vendo todo mundo pulando animadamente no salão, e fazendo meu ritmo com muita empolgação. Tanta euforia que no primeiro intervalo já estava com as mãos e braços muito cansados pela movimentação do “ximbau”. Até me atrevi a tocar um pouco de tarol, revezando com o percussionista contratado. O cara me deu uns “macetes” e ficava ao meu lado, para no caso de falha de minha parte ele poder assumir de novo, de imediato. O tarol, para que você tenha uma idéia, é peça fundamental para uma percussão de carnaval. Se ele parar o conjunto “morre”, enfraquece.

Chegamos ao final daquele nosso primeiro baile exaustos. Mas satisfeitos pela missão cumprida. A diretoria do clube gostou muito de nosso desempenho. No outro dia, dormi e descansei bastante para recuperar as energias. Notei que meus braços estavam normais, sem nenhuma dor muscular, como aquelas que tinha sentido na véspera, em razão de minha falta de prática em percussão.

Para o segundo baile, já estávamos com o moral alto, mais tranqüilos tudo seria mais fácil. E foi mesmo, com exceção pelas dores que comecei a sentir nos punhos e pulsos. Para resumir, voltou o cansaço da noite anterior em 15 minutos. Entrei em um verdadeiro desespero e fiquei assustado. Com toda a certeza não agüentaria até o final, se mantivesse o mesmo ritmo. Por sorte, no decorrer dessa festa, um rapaz que estava olhando o Big Brasa tocar, subiu no palco e pediu para dar uma “canja”, que no jargão musical significa uma ajudazinha, tocando um pouco. Era o Pedro Ricardo, que também muito disposto e animado, nos ajudou bastante naquela noite, vindo mais tarde se tornar meu amigo. Em uma dessas coincidências, viemos a descobrir que o Ricardo e eu nascemos no mesmo dia, mês e ano. No terceiro e quarto dias, como já estávamos “tarimbados”, tudo correu dentro do esperado, na mais perfeita normalidade. Com exceção de nosso pagamento, que a diretoria do Balneário, na última noite de festa, alegando prejuízo, nos pagou apenas a metade do contrato. Mas meu pai fez questão de efetuar o pagamento integral a todos os músicos. E nós, de casa, ficamos o resto do ano inteiro para receber a quantia restante em módicas prestações, como em um crediário...

Mas até isso valeu com experiência. Nos carnavais que tocamos, alguns anos depois, no contrato havia uma cláusula que os pagamentos deveriam ser efetuados de forma integral, após cada função.


João Ribeiro da Silva Neto
Do livro "O Big Brasa e minha vida musical" (1999)

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