quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Ensinar o pulo do gato, nunca!


Ensinar o pulo do gato, nunca!



O Edson Girão sempre foi um excelente músico, particularmente no que se refere à harmonia das músicas. Muito detalhista e possuidor de um “ouvido” muito bom, conseguia aprender todos os acordes de uma música, de qualquer estilo. Nos ensaios por vezes se tornava maçante, por ser meticuloso demais. Podia demorar, mas só ficava satisfeito quando executava o encadeamento harmônico perfeito da música, ou para os leigos, o acompanhamento certinho. E nos mostrava em sua guitarra, com muita satisfação, os acordes mais difíceis de serem percebidos e que ele tirava “de letra”. Quando não conseguia perceber um detalhe harmônico ele ficava visivelmente irritado, dizendo que estava “faltando alguma coisa”. E persistia na busca da perfeição harmônica, sendo que no momento que conseguia descobrir o tal acorde, imediatamente se preocupava em ensiná-lo para  nós, na primeira oportunidade que tivesse.  
Enquanto muitos conjuntos musicais aprendiam as músicas de maior sucesso no momento “na marra” para logo incluí-las no repertório, mesmo que não estivessem cem por cento corretas, o Edson chegava mesmo até a discutir nos ensaios, no intuito de fazer prevalecer o seu ponto de vista – o de executar as músicas com as harmonias corretas, com o qual concordo plenamente.
Quase sempre, de modo particular em cidades do interior do Estado, os músicos locais compareciam aos bailes tocados pelo Big Brasa ou mesmo por outro conjunto da capital para aprenderem “macetes”, harmonias novas, conhecer um ou outro equipamento mais moderno, enfim, para aprender mais.
Nós conhecíamos de imediato quando componentes de algum grupo musical se posicionavam em frente ou ao lado do palco, discretamente, para nos observar. Pelo interesse demonstrado, atitudes e gestos, sabíamos que eram colegas que estavam ali para aprender mais um pouco mais ou até mesmo, quem sabe, para “tesourar” o Big Brasa por qualquer falha cometida durante a função. Na verdade, dificilmente um grupo se preocupava tanto assim com a harmonia correta das músicas como o Big Brasa. Acho que pelas dificuldades encontradas, pelo trabalho difícil e cansativo de escutar uma música várias vezes até perceber um ou outro detalhe, o Edson considerava suas descobertas como um “segredo de Estado”, portanto merecedor de toda a proteção necessária. Muito justo!
Em algumas dessas oportunidades presenciei o Edson verdadeiramente cercado por músicos, que no salão ou ao lado do palco, nem piscavam para não perder um acorde ou outro mais difícil de ser feito. Mas por esperteza, na hora exata em que ia inserir o tal acorde, ele virava um pouco o corpo de lado de maneira a esconder dos espiões os acordes desejados, preservando assim seu trabalho. Podiam copiar tudo, menos o “pulo do gato”...


João Ribeiro da Silva Neto
Do livro "O Big Brasa e minha vida musical" (1999)

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