quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O revezamento “perfeito”


O revezamento “perfeito”



Nos períodos de carnaval e “reveillon”, o Big Brasa contratava músicos adicionais, de instrumentos de sopro. Na quase totalidade das vezes as contratações foram bem sucedidas, o pessoal desempenhou bem as funções, sem problemas. Entretanto, toda regra tem uma exceção...

Uma delas foi em um “reveillon”, no qual o conjunto foi contratado para animar um baile no Iate Clube de Fortaleza. Eu não tinha nenhum instrumentista de sopro em mente e tive que me deslocar até a Praça do Ferreira, para o “ponto dos músicos”, local onde a rapaziada toda se encontrava. Empresários, para agenciar contratos e músicos diversos.

Não gostava muito daquele “ponto”, primeiramente porque não tinha tempo e em segundo lugar porque o pessoal se ocupava demais em falar dos outros, o que nunca foi o meu forte. Mas fiz contatos com três músicos da banda de música da Base Aérea. Os instrumentos: sax, piston e trombone de vara. Estaria cem por cento, pensava eu. Convidei-os para um ensaio e eles desconversaram, dizendo que não seria necessário porque tinham muita prática, as músicas todas estavam nos álbuns e não haveria problema. Achei que sim, em vista da idade e da aparência dos caras, de profissionais experientes...

No dia do baile iniciamos bem. Até a meia-noite, o conjunto executou seu repertório normal, enquanto os instrumentistas de fora aguardavam, bebendo cerveja... Péssimo sinal, mas já naquela hora não daria para fazer nada.

Após um rápido intervalo, passado o ano, depois da meia-noite entraram os “metais”. Começamos tocando uns três frevos bem animados e algumas marchas. Durante uns trinta minutos tudo bem. Mas depois começou o que eu achei uma verdadeira palhaçada. Ao invés desses três músicos permanecerem no palco, fazendo arranjos e tocando em conjunto, ficava um só, enquanto outro descia do palco e bebia cerveja lentamente, nos olhando com a maior calma. Enquanto isso, o terceiro estava no banheiro, fazendo xixi. Isso durou quase até o final do baile, apesar de minhas insistentes reclamações aos três irresponsáveis. 

Mas no final, o negócio piorou mais ainda: um deles, o trombonista, que estava de “cara cheia”, cismou de ficar embaixo do palco e enquanto nós, logicamente em cima do palco, tocávamos uma música, ele simplesmente virava o trombone para nosso lado e tocava outra música, ou fazia pequenas frases musicais completamente diferentes da música em andamento. Foi preciso eu descer do palco e firmemente ordenar que ele parasse de tocar.

Para completar, após o baile, mesmo a contragosto, fui efetuar o pagamento aos caras para logo me livrar deles. Enquanto tirava o dinheiro, contava e pagava, perdi 500 mil, não sei como. Procuramos em volta do palco, por onde eu tinha andado, sem sucesso. Alguém, na entrada desse Ano Novo se deu bem às minhas custas...

Naquela noite, houve o que se pode chamar de “revezamento perfeito”, por parte dos músicos de fora, contratados: um tocando, outro bebendo e o terceiro mijando. Foi de lascar...


João Ribeiro da Silva Neto
Do livro "O Big Brasa e minha vida musical" (1999)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe sua mensagem no Blog e participe desta época inesquecível dos Anos 60 e Jovem Guarda!