Os shows com o Ednardo
Em diversas oportunidades acompanhamos o Ednardo,
compositor de inúmeras músicas belíssimas, dentre elas Beira-Mar e
Pavão Misterioso, esta última tema de novela exibida pela Rede Globo.
Ednardo é um dos componentes do chamado “Pessoal do Ceará”, composto
também pelo Belchior, Rodger, Tetty e Jorge Mello. O Big Brasa teve a
oportunidade de acompanhar esse pessoal todo, quer na televisão ou em
apresentações em clubes ou boates de Fortaleza. Com o Ednardo estivemos em dois Festivais Nordestinos
de Música Popular, realizados em Recife, Pernambuco, dos quais
falaremos mais tarde. A foto ao lado foi publicada na extinta Revista O
Cruzeiro e foi obtida durante um Festival de Música Popular Nordestina
realizado em Recife, Pernambuco, no Ginásio Coberto em Embiribeira.
Depois que o Ednardo seguiu para uma temporada em São Paulo e conseguiu gravar, retornou para Fortaleza para fazer o lançamento de seu primeiro disco e para realizar alguns shows.
Fez contato conosco no sentido de acompanhá-lo e mais uma vez o Big
Brasa topou a parada, que seria o ensaio para a realização de sete
apresentações. Três delas em Fortaleza, no Teatro José de Alencar e
Ginásio Paulo Sarasate, duas em São Luís do Maranhão e duas em Teresina, essas últimas nos teatros locais.
Começamos
os ensaios em nosso “QG”. Muito trabalho, porque tínhamos que deixar
vinte e cinco músicas preparadas para as exibições. E os arranjos foram
muito caprichados. O Ednardo sempre foi bem detalhista em seu trabalho e
eu gostava de produzir as introduções das músicas, arranjos e
encadeamentos harmônicos para que pudesse improvisar e usar todos os
recursos de efeitos de que dispunha. Passamos mais ou menos uma semana
ensaiando o dia inteiro, serviço cansativo e por demais desgastante. O
importante é que tudo ficou bem arranjado. Copiei em pauta musical todas
as introduções e outras passagens para que não houvesse o perigo do
esquecimento. O Adalberto tocava bateria e às vezes órgão. O Cláudio
Pereira contrabaixo e eu guitarra, viola e flauta doce. O Ednardo, além
de cantar suas músicas, usava em algumas delas umas percussões para
produzir maior efeito nos arranjos e tocava viola ou violão. Toda a
produção do show, ao final, ficou excelente.
Preparamos
cerca de 30 músicas para as apresentações. Os músicos eram o Cláudio
(contrabaixo), Edi (bateria), Adalberto (órgão) e eu, que tocava
guitarra, viola e flauta doce. O repertório era todo anotado, as
introduções e arranjos em partituras para que nada fosse esquecido.
Em
todas as ocasiões, nas casas de espetáculo ou teatros, nós tínhamos que
instalar todo o instrumental com bastante antecedência, passar algumas
músicas ou introduções, esperar que as equipes técnicas fizessem a
marcação de luzes, posições, microfones e outros detalhes.
Lembro que em um show realizado em São Luís,
logo depois da primeira música minha estante caiu do palco e voou a
papelada toda, caindo bem na frente da primeira fila da platéia. Por
sorte um dos espectadores apanhou a estante e me entregou rapidamente,
de modo que deu tempo para eu organizar as partituras na seqüência para a
próxima música. Fiquei apreensivo naqueles instantes, porque dependia
muito das partituras para que todos os detalhes dos arranjos pudessem
ser executados. Ainda bem que a luz não estava em mim e pouca gente deve
ter notado esse pequeno incidente.
Foi uma temporada realmente muito proveitosa. Todos adquirimos mais experiência ao trabalhar musicalmente em teatros. A
acústica, a platéia, as luzes, a própria disposição do instrumental no
palco, tudo era diferente do que se costuma fazer normalmente em um
baile.
João Ribeiro da Silva Neto
Do livro "O Big Brasa e minha vida musical" (1999)
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